hoje após almoçar fiquei morgando em frente ao boteco.
não vi nada que se destacasse da paisagem urbana de sempre.
mas por algum motivo gostei de me ver e sentir lá.
estou em busca de um ambiente em que colocar meus personagens.
creio que seja o ambiente que determina tudo. ontem, em a pele que habito, o personagem do estuprador maloqueiro cresceu no brasil. foi uma cena breve de um garoto descendo uma ladeira que explicou tudo.
meu personagem, sinto, sempre tem algo de palhaço e bufão.
mas é um cara sério. que leva a vida com vagar e cuidado.
não sei. claro que não existe apenas um personagem. devem haver muitos para algo acontecer.
mas sei lá teimo em permanecer fixo numa versão piorada do beckett, algo como a última gravação de krapp.
sempre vou ao estação caneca, lá na frei caneca, que é onde o pessoal do marião se reúne. ver as peças e encontrar o pessoal, sim. mas o fato é que a paim é a única rua das redondezas onde você SEMPRE encontra vaga para estacionar. às vezes desço à roosevelt deixando o carro por lá mesmo. convém mais do que torcer para achar uma vaguinha nas ruas mais classe média. a paim é uma rua curiosa. lá tem de tudo, até um condomínio vertical quase favela onde uma vez um sujeito queria me vender o apê sem pedaço do teto. dava para ver o céu. cara.
enquanto almoçava, refletia. por que insisto em tentar expressar o mundo à minha maneira? acaso nunca tive a possibilidade de tanto? fato é que no jornalismo eu nunca compartilhei dos mesmos critérios que os outros. na filosofia, também - mas eu não podia falar nada nesse ensino copiado da frança. na ciência política, eu viajava em delírios. aqui no teatro, eu não sei mais em que direção me espraio.
vejo muito. mas tudo o que vejo é meio, para mim. até mesmo o conteúdo passado não me é conteúdo, se é que este existe. é meio. é técnica. amo alguns personagens do marião, nesta peça em cartaz o sujeito amalucado todo chapado. mas não consigo realmente ver-me imerso na trama. ela permanece sempre alheia. eu não estou lá. acho.
na apresentação de bestas mortes, eu estava calmo de dar dó. os outros se cagavam de medo, quase todos, todas (a grande maioria garotas), mas não consigo lhes dizer a satisfação experimentada quando o paulo mota entrou com a puta. a quarta parede estava lá, claro, mas é como se eu estivesse mesmo no buraco da fechadura. num microcosmo, como numa proveta. a sensação de pisar o palco para mim é algo mais do que um renascimento. lembro-me das risadas, das gargalhadas, não só de nossa cena, claro, mas lá no fundo lembro-me mesmo da leveza de pisar e sair do palco. mas sei que para isso se repetir terá de ser feito muito, mas muito mesmo.
não vivo do passado, contudo. já esqueci.
bem imagino o que vem por aí e preciso me preparar.
a oficina de cinema abriu-me portas tal qual a de figurino. um universo novo. exigente. criterioso. cuidadoso.
impossível sair intacto.
a que ponto doentio levei meu medo de ser. hoje, só me resta a ilusão de sê-lo sem medo. escárnio. deu-me vontade de escrever a palavra. não sei por quê.
não vi nada que se destacasse da paisagem urbana de sempre.
mas por algum motivo gostei de me ver e sentir lá.
estou em busca de um ambiente em que colocar meus personagens.
creio que seja o ambiente que determina tudo. ontem, em a pele que habito, o personagem do estuprador maloqueiro cresceu no brasil. foi uma cena breve de um garoto descendo uma ladeira que explicou tudo.
meu personagem, sinto, sempre tem algo de palhaço e bufão.
mas é um cara sério. que leva a vida com vagar e cuidado.
não sei. claro que não existe apenas um personagem. devem haver muitos para algo acontecer.
mas sei lá teimo em permanecer fixo numa versão piorada do beckett, algo como a última gravação de krapp.
sempre vou ao estação caneca, lá na frei caneca, que é onde o pessoal do marião se reúne. ver as peças e encontrar o pessoal, sim. mas o fato é que a paim é a única rua das redondezas onde você SEMPRE encontra vaga para estacionar. às vezes desço à roosevelt deixando o carro por lá mesmo. convém mais do que torcer para achar uma vaguinha nas ruas mais classe média. a paim é uma rua curiosa. lá tem de tudo, até um condomínio vertical quase favela onde uma vez um sujeito queria me vender o apê sem pedaço do teto. dava para ver o céu. cara.
enquanto almoçava, refletia. por que insisto em tentar expressar o mundo à minha maneira? acaso nunca tive a possibilidade de tanto? fato é que no jornalismo eu nunca compartilhei dos mesmos critérios que os outros. na filosofia, também - mas eu não podia falar nada nesse ensino copiado da frança. na ciência política, eu viajava em delírios. aqui no teatro, eu não sei mais em que direção me espraio.
vejo muito. mas tudo o que vejo é meio, para mim. até mesmo o conteúdo passado não me é conteúdo, se é que este existe. é meio. é técnica. amo alguns personagens do marião, nesta peça em cartaz o sujeito amalucado todo chapado. mas não consigo realmente ver-me imerso na trama. ela permanece sempre alheia. eu não estou lá. acho.
na apresentação de bestas mortes, eu estava calmo de dar dó. os outros se cagavam de medo, quase todos, todas (a grande maioria garotas), mas não consigo lhes dizer a satisfação experimentada quando o paulo mota entrou com a puta. a quarta parede estava lá, claro, mas é como se eu estivesse mesmo no buraco da fechadura. num microcosmo, como numa proveta. a sensação de pisar o palco para mim é algo mais do que um renascimento. lembro-me das risadas, das gargalhadas, não só de nossa cena, claro, mas lá no fundo lembro-me mesmo da leveza de pisar e sair do palco. mas sei que para isso se repetir terá de ser feito muito, mas muito mesmo.
não vivo do passado, contudo. já esqueci.
bem imagino o que vem por aí e preciso me preparar.
a oficina de cinema abriu-me portas tal qual a de figurino. um universo novo. exigente. criterioso. cuidadoso.
impossível sair intacto.
a que ponto doentio levei meu medo de ser. hoje, só me resta a ilusão de sê-lo sem medo. escárnio. deu-me vontade de escrever a palavra. não sei por quê.
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