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Hotel Lancaster (texto: Mário Bortolotto, direção Marcos Loureiro)

Há algum tempo que eu reflito quanto a isso de o Marião ser o herdeiro do Plínio Marcos.

Não estava convencido disso. As tramas eram suburbanas, mas deixavam a dever em tosquidade (ou tosquidão, se é que a palavra existe).

Hotel Lancaster é um texto mais antigo do Marião. E é tosco. Do jeito que eu gosto.

Nem vou contar a trama, que tirará toda a graça a quem for ver. Mas digo apenas que ela é tramada por gente à margem, bem à margem. E que algo em seus caracteres deixa passar algo mais do que a gente pode ver.

Em suma, algo que também vemos no Plínio, ou do que conheço dele.

O Marião irá, creio, reclamar, afinal, cada um é cada um. Até concordo. Só disse o que disse para comentar aquela minha primeira frase.

Os atores, pelo que me disseram, são diferentes nas quintas e sextas dos sábados e domingos, ou das quartas e quintas das sextas aos domingos. Não sei. Mas gosto do que vejo (e vi TRÊS vezes).

O Loureiro faz tudo andar rápido sem ser estabanado e isso me agrada. Os momentos de solidão dos personagens são engraçados pacaralho, e isso pude notar só da última vez (em que senti algo incômodo, não sei por quê. talvez por ter visto tantas vezes).

Feliz ano novo (entende quem for ver).

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