Pular para o conteúdo principal

Stardust (Silenciosas + G t’aime, direção Diogo Granato, Sesc Belenzinho, 25/08/2012)

Sou suspeito também para falar sobre o trabalho do dançarino Diogo Granato e trupe, que acompanho há vários anos. Recentemente fiz oficina de Dança Artesanal, que é como ele batizou seu método, e adorei tanto que não vejo formas de treiná-la e encená-la (algo que fiz, com todas as limitações, em Guarulhos recentemente, com a participação de Felipe Cirilo, Brenda e Natália).
Stardust é um espetáculo que diz claramente a que veio:a homenagear o camaleão David Bowie, que anda sumido mas que nem por isso desaparece de nosso imaginário (um parênteses de ordem pessoal: acostumado a odiar o trabalho de Bowie por causa de minha irmã, que não parava de tocá-lo nos anos 80 e 90, agora resolvi enfrentá-lo sem saber sinceramente aonde isso poderia me levar).
O espetáculo é singelo: tomados por glitter, os dançarinos de Silenciosas e G t’aime desenvolvem um trabalho de reminiscências retiradas dos principais hits de Bowie usando uma enorme projeção e o acompanhamento solar de Ramiro Murillo.
Não tenho capacidade para comentar a dança em si. Mas digo o que retirei de tudo o que vi: uma vontade louca de realizar um vôo para o passado para tentar reviver isso que eu não vivi, qual seja, o prazer de sopesar minhas sensações pelo universo do Ziggy Stardust, mais que morto e enterrado, mas do qual muito se originou, muito do que vemos por aí. Um detalhe que não vale deixar passar é o fim, em que os dançarinos mostram o profundo envolvimento de todos os corpos por todos os corpos, seja lá de que sexo sejam ou quais suas pulsões internas. É libertador ver como o sexo não mais está dominado pelo desejo de domínio, mas ao contrário, absolutamente superado pela vontade de gozo. Quem não viu, não verá mais.

PS: Em tempo, o Diogo diz que vai voltar. Eba.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

29/7 (a partir de 28) - Teatro e artes

Ontem, ao ouvir o Gerald, quanto a como coloca a musica (depois), e depois ainda, ao ver uma musica passando pela partitura (e me deixando uma impressao de impossibilidade de traducao em algo mais), percebi que a arte finalmente havia voltado a assumir um lugar inextrincavel em mim. Finalmente percebi novamente que ela existia em mim para algo alem da minha vida, e percebi tambem que qualquer motivacao extemporanea (tipo celebridade, valor em si, razao) para ela era, alem de inutil, irrelevante. Percebi isso e na hora me libertei de coisas ao meu redor imensas, que me faziam sentir amargurado por um peso muito grande. Como se eu DEVESSE atribuir algo aa minha vida por me sentir pequeno demais para tudo o que investi nela. Isso fez com que eu tambem entendesse que, quando QUALQUER COISA for bem feita, ja EE arte em si, e por isso mesmo entendi o valor da edicao no cinema, da atuacao, da luz e tudo mais. Tudo adquiriu de repente um valor maior, para alem da vida inclusive.