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sétimas influências

oficina literária.


não sabia quem era a márcia denser.

mas ela foi elogiada pelo francis, o paulo, de boa memória, e com isso e seu talento navegou em águas profundas.

entrei sem esperar muito.

ela se mostrou de uma gentileza ímpar. entendendo meus atrasos, minha necessidade de cair fora - estava com outros compromissos.

ela nos apresentou autores (para mim) desconhecidos ou dos quais não tinha maiores referências. ela me fez ver o panorama de outro ângulo. um ângulo mais amplo.

entrou em detalhes de política na literatura. mostrou como é que gente talentosa é (quase) sempre jogada a um canto. mas não choramingou. simplesmente afirmou. e com insistência. e com ênfase. não porque fossem seus amigos. porque sabiam escrever.

explicou os diversos gêneros. mostrou atalhos. mostrou tampas de bueiro em que podemos facilmente cair. orientou algo que em váriosas de nós (a turma era quase toda de mulheres) está latente, um certo talento, mas que não trabalhamos (ou dificilmente trabalhados) com forja. é forja, não força.

ao final, uma breve competição. ganhei e recebi um livro dela. eróticos.

eu não sei em que praia navego neste panorama de palavras. às vezes caio nas graças de algum, depois no olvido novamente. às vezes me meto a poemar, ou a prosar, mas geralmente canso e não estou nem aí. escrevo minhas peças, sim, mas a maioria fica na gaveta mesmo. quero encenar, quero, mas quero antes ver a graça dos palcos mais e mais.

no geral, sou um tirano quanto àquilo que quero mostrar. lembro-me da primeira peça que dirigi. acho que exagerei. o brunno tinha pavor - só ficou pelo pavor. hoje entendo tudo diferente.

a márcia me mostrou que vale a pena. apesar de tudo.

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