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Performances e o culto ao eu

Dei autorização a uma performer que conheci recentemente para a apresentação do meu texto Fugindo como uma performance a ser apresentada com vídeo e tal.
Acompanho esse negócio de performances há algum tempo. Já vi algumas coisas bem lamentáveis por aí e, embora respeite, até porque não me aprofundei em nada a respeito, confesso não conseguir ver nada de muito legal nesses negócios à la Marina Abramovic, sobre a qual o Bob Wilson também trabalhou. Sobre performances em geral ainda navego em círculos.
Mas reparei numa coisa.
Venho recebendo no face algumas fotos dessa performer que está com meu texto. E reparo como, nessas fotos, ela aparece imutável, sendo o centro de poses em que algo visual se destaca - roupa, maquiagem, etc.
Comprei recentemente a Das Artes, revista sobre artes plásticas, e na capa da última - digo, a de fevereiro, porque a de março não vi ainda - aparece um cavalo vermelho guiado por uma mulher com vestimenta à la esgrima japonesa - não me vem o nome agora - também com pose imutável. Essa mesma pose aparece pela mesma mulher nas fotos internas relativas ao seu trabalho.
Daí que reparo haver nessas posturas algo atento em especial ao eu envolvido. Como se simplesmente aparecer, em pose imutável, adquirisse algum valor supremo. Como uma espécie de exibicionismo, inclusive. Estranho que isso assim aconteça. Parece haver algo de exagerado, um membro superdesenvolvido, atrofiado, nesse eu envolvido aí.
Só uma impressão.

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