Pular para o conteúdo principal

Depois de Ontem (texto e direção Renata Bortoleto)


Fui assistir esta peça que iria rolar no espaço Piscina do teatro Viga esperando insights relativos a amor entre homem e mulher, digo, um casal. Estava meio nervoso por razões óbvias - enfrentar esta parada sem que a ferida tenha cicatrizado, ainda. Mas sou defrontado face uma outra forma de amor: entre mãe e filho.
Thiago Spektror foi um colega meu numa oficina do Diogo Granato. Eu não sabia que ele iria estrelar a peça. A colega eu não conheço. Foi interessante vê-lo enfrentando um texto ágil e forte, com encenação restrita a jogos de luz e de sombra.
O texto, como disse, é forte, mas algo fez com que eu me afastasse. Como reação, quem sabe a relação entre essa mãe e esse filho tenha me rendido uma certa aflição difícil de encarar. Percebia-se que ela havia desistido de uma certa vida por ele. Havia um misto de dor e culpa na própria existência dele. Ela deixava claro que não gostava desse seu rebento. Queria matá-lo. E ele como que queria morrer. Ou matar.
A peça é curta, 40 minutos dizem. Um desenrolar de sensações e criação de ambientações internas que no meu caso veio quase a amarfanhar minha sensibilidade. Tudo em nome de um certo choque que a situação poderia criar no espectador.
Ao final, contrariamente à minha expectativa, saí comovido. Quase chorei. Veio-me um lapso sobre MINHA relação com MINHA mãe - algo AGORA menos conturbado mas que estragou BOA PARTE de minha vida. Quem sabe meu próprio CASAMENTO. Bom, agora não importa. Se comoveu, atingiu.
Fica o mês de abril no Viga.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

algo sobre wilson e kantor

difícil não se sentir provocado ao ler e refletir algo sobre o legado de bob wilson. digo ler e refletir porque nunca vi nada DELE. e aquilo que tem no youtube, embora bonitinho, deixa demais a desejar, após ter lido o livro do galizia (os processos criativos de robert wilson). o fato é que ele, assim como o kantor, deixam-me a impressão de não, nunca ter assistido a nada similar àquilo que eles há tempos já fizeram. como sentir um déja vu face um espetáculo em que nada acontece, e em que os vivos mais parecem mortos, e os mortos (bonecos) como que expressam a vida (kantor)? (se é que eu entendi bem). dele, do kantor, a gente acha algo mais convincente no youtube. mas do wilson, nada. ou muito pouco. bob wilson convenceu-me por exemplo de que não precisamos seguir a rota dos clássicos - e por clássicos me refiro a todos esses que vemos citados aqui e acolá, por gente culta ou nem tanto, como referidos à arte contemporânea. não, realmente não preciso - mas posso querer - ler sobre o fut...