Pular para o conteúdo principal

Ler teatro


A primeira pessoa que me indicou a diferença que pode causar uma leitura de peça de teatro em cena, em relação ao texto em si, foi o Roberto Alvim, e por isso eu agradeço.
Realmente é diferente, sumamente diferente, encarar o texto enquanto na página e sendo dito. Neste último caso, abre-se todo um leque de possibilidades que mostram que o texto foi feito realmente para teatro.
Em que consiste essa diferença, muito especificamente, eu não sei. Nem quero saber.
Sei apenas que me é sumamente difícil captá-la, acostumado que estou a ler, simplesmente.
Quem sabe a primeira vez em que vi, na prática, o quanto a encenação pode ser diferente do texto puro e simples tenha sido a oficina do Loureiro. Com o exemplo por definição, Ser ou não ser.
Lembro-me como se fosse hoje da sensação de ler algo intransponível, algo rebuscado demais para poder ser levado aos palcos. Qual nada. Aos poucos, eis que o texto se impôs e passei a ver TANTO no lugar que fiquei chapado. Hoje, embora esteja fora da oficina, tenho como objetivo encenar o pequeno texto de alguma forma em algum lugar.
Para onde me dirijo, agora? Ao texto em si, à encenação ou à fuga do texto para investir apenas nesta última (encenação)? Não sei.
Sei apenas que me sinto melhor.

PS: Contei e vi que assisti 33 peças este ano (li outras muitas). Menos da metade de alguns colegas, mas não ligo. Importante é conseguir vislumbrar caminhos. Ser um autômato não faz a minha cabeça.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c