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Irmãs Jamais (dir. Marco Bellochio)


Havia acabado de deixar a Thaís no metrô e me despedido do Zé e da Luísa, que encontrei no Itaú da Augusta (eles iam ver "Therèse D.", a que não me motivei), quando li, naquele mural do cinema, um pequeno texto que saiu na Folha sobre o filme de 2010 do Bellochio. Tomou-me uma certa curiosidade de ver algo feito com intuito mais experimental por um cara de renome cuja obra conheço superpouco (quase nada, a falar a verdade). O sujeito da Folha terá exagerado em alguns qualificativos? Não sei.
Somos colocados diante de uma história que passa pelos anos. Vemos um jovem substituindo a presença da irmã face a filha desta última. Ficamos sabendo depois que ele está comprometido com uma menina. Esta dedica-se a lapidar jóias, o que é o mote para ele conseguir um empréstimo da família. Tudo, o casamento deles e o empréstimo, degringola e o sujeito vê-se diante dele mesmo. A história passa-se com os anos, indicados bem no começo das cenas. O que atrai é que a história somos nós, espectadores, que construímos com pequenos indícios aqui e acolá. Nada (ou quase nada) é expresso na lata (exceção é quando ele explica a situação para a irmã) e a agonia dos personagens passa-se tranquilamente diante de nossos olhos. Há momentos em que a câmera fica digital e de repente não-digital, e não sei se isso realmente significa alguma coisa. Mas tudo é suave, suave.
Há mais trama que prefiro não contar. Mas o que importa é que tudo se passa com singeleza, nada sendo dito com as palavras, nem mesmo com os gestos. Há algo de mais sutil que auferimos das situações em si. Tudo são "flashes" de vidas que se mostram transparentes com o passar do tempo. Uma família que sentimos tal qual sentiríamos as nossas se fossem expressas da mesma forma. O diretor escolheu a própria família para estrelar o filme, e sentimos o tempo passar literalmente. O final, surpreendente, de tirar o fôlego, deixa um suspense no ar. O que vimos parece tão real que mal acredito que seja encenado. Ficamos sem fôlego só de imaginar a realidade.
Virei fã desse Bellochio. Que lindo.

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