Pular para o conteúdo principal

dias e noites - 4/9

ontem à noite, pouco antes da plateia entrar, finalmente pude assistir, em privado, a primeira cena de dias e noites, após todos os toques do marião. o mau e a helena seguiram à risca tudo e o batata pôs inclusive o som. foi uma apresentação privada. pude então sentir o drama. quando fico na coxia, esperando para entrar, vejo o mau chegando lá ao fundo do palco, rindo, e parando num instante em que é dada a deixa para a entrada do som. é nesse instante que me vem uma sensação - fugidia - de melancolia e depois de tristeza, quando o travesti vestido pelo mau vai lentamente em direção à prostituta conferir que o namorado dela está fazendo poesia - quando mal sabe escrever. uma sensação forte de perda da vida rumo a lugar algum - neste caso, sem o amor.
já a cena com o eldo e a gabi, eu vi o fim dela outra noite. fiquei passado. o amor romântico - vem-me agora a música à mente - assume uma presença tão real e tão dramática - nestes tempos pós-dramáticos - que não consigo deixar de me render. emocionalmente. não conseguiria assisti-la, reparo, pois entramos, a helena e eu, em cena logo a seguir. ficaria tão emocionado que não conseguiria fazer o que faço.
a cena do eldo e da toty é para mim uma incógnita. ouço, lá da coxia, o diálogo, sim, mas o tempo - as pausas - não consigo mensurar. dão-me arrepio os gritos da bêbada, especialmente quando ela diz não amá-lo mais. preciso - sempre - fazer algo mais porque se não tendo a capotar internamente. a toty dá o sangue numa cena que deixa uma impressão também indelével de perda.
a última cena - com a gabi, a toty e o mau - é uma que quase decorei. morro de dar risada sempre que o mau, tão forte sempre, fala ou grita, pois a mensagem é tão clara a quem abre as perspectivas à vida. o final sempre dá margem a choros. ontem uma senhora chorava, disse o carcarah.passar-se-ão mais alguns dias rumo à quarta semana de peça. sempre lotando. levando livros e livros na cara, faz parte da cena, ora, e fazendo os outros rirem e eles me fazendo rir e chorar.e assim segue dias e noites, do Lucas Mayor, direção Mário Bortolotto, com cia la plongée, eldo, helena e eu. valeu

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c...