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Sem bóia

Não gosto quando ouço falar ou leio sobre as tramas que alguns escritores, se não todos, desenvolvem para achar o seu lugar no mundo. Não gosto porque em muitos casos eles mostram que tão somente querem sucesso. E sujeitos em busca de cenouras atraentes me enchem o saco.
Isso acontece muito especialmente com o meu B. Já se tornou chato ler que de secretário do Joyce, que apelava ao excesso, a imiscuir o inglês com outras línguas para atribuir ainda mais riqueza àquilo que deveria ser a vida, passou à subtração, ao mínimo, etc. Isso assim acontece porque, segundo algumas línguas, B. apenas queria o sucesso, assim encontrando sua via ao estrelato.
Eu amo a opção dele. Mas não busco com ela nada demais. Simplesmente ela me agrada - embora outras coisas também me agradem. Pois por meio dela finalmente encontro bases para a ausência de base. Coisas que me fazem elevar e cair, sem precisar apelar a fingimentos, a desculpas, a tentativas de encontrar bóias para o mundo.
Aos poucos, já bem familiarizado com seus escritos, começo finalmente a entrar no jogo que me diz respeito. Sem a intenção de encontrar nada - além de mim mesmo (o que já é apenas moderno).

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