Fui dirigido nos últimos meses por dois caras que eu admiro: Mário Bortolotto e Marcos Loureiro. Cada um tem seu estilo e com cada um tive minhas dificuldades. Com o primeiro, fiz um papel numa peça de um outro cara legal, o Lucas. Com o segundo, um papel para apresentação única numa peça feita por mim e pela Renatinha.
Seria inviável tentar contar tudo o que aprendi nesses processos. Mas gostaria de falar de um negócio em particular.
O Marião me convidou para um papel porque, segundo ele, o personagem tinha a minha cara. O personagem, no caso, chama-se Pedro e é catedrático de ciências humanas (provavelmente Literatura). Na cena, ele conta a sua primeira mulher (está casado com outra) sua paixão por uma aluna maluca.
O Marião me convidou porque o Pedro tinha a minha cara. Nesse sentido, o que eu precisava fazer era decorar bem o texto e encená-lo com os meus recursos - que até o momento são bem parcos. O Marião me passou as marcações e dicas de como fazer tal ou qual fala. Segui tudo ao pé da letra. O personagem saiu bem. Acabei tropeçando algumas vezes, mas posso dizer que fui aprovado.
Já no caso do Loureiro o personagem foi feito por nós (eu e Renata), mas não foi feita nele nenhuma gênese. Nem nome ele tem. É um sujeito que anda atrás de uma garota e que declara o seu amor. No caso do Loureiro, fizemos a cena diversas vezes - antes, numa oficina -, e ele ia aqui e ali lapidando os personagens com base em detalhes totalmente representativos. Senti dificuldade imensa. Eu tinha agora que interpretar. Qualquer gesto mínimo de minha parte poderia trair todo o personagem e toda a cena. Encenamos a cena (sorry pelo eufemismo) nas Satyrianas, nos Parlapatões. Diria que a cena saiu a contento - só não sei eu, que até o fim era a parte mais crítica de tudo.
No caso do Marião, eu dizia as coisas do meu jeito e esse meu jeito acabava traindo o personagem e dando margem a risadas (claro que não só o ator, dado que o texto é hilário, para dizer o mínimo). Se eu me metesse a interpretar poderia dar merda. Eu simplesmente deixei correr. Claro que com o tempo eu ia pesquisando mais e mais o personagem e atribuindo novas acepções a tudo o que ele experimentava e dizia. Mas isso foi um trabalho que fiz por opção. Eu poderia ter estancado em simplesmente atuar como eu mesmo falo, penso e ajo.
Já no caso do Loureiro minha forma de apreender a realidade poderia não contar para o personagem. Eu tinha que criar, em mim, formas de dizer - mesmo que estranhas ao Rodrigo indivíduo -, e isso criava em mim dificuldades imensas - além do que, deixando tudo de lado, eu tenho minha forma particular de ver as coisas, e isso interferia. Interferiu.
Haverá uma forma certa de fazer as coisas? Acho que não. Mas há com certeza a forma errada. Nesse sentido, aprendi tudo com eles, o Marião e o Loureiro. Eles, ambos os dois, percebiam muito bem o personagem, e eu tinha que fazê-lo adquirir vida. A direção era deles, a sensibilidade, deles. A capacidade para usar ou não meus recursos ou criar outros teria de vir de mim. Não à toa, quando vi o Louro fazendo o papel, para me dar alguns exemplos, eu consegui apreender melhor a liberdade de atuação naquela cena.
Hoje busco mais. Alguns projetos pessoais, alguns lugares a visitar, outros contatos a fazer, amigos com quem compartilhar as noites. Mas me sinto tendo sido parido. Finalmente.
Seria inviável tentar contar tudo o que aprendi nesses processos. Mas gostaria de falar de um negócio em particular.
O Marião me convidou para um papel porque, segundo ele, o personagem tinha a minha cara. O personagem, no caso, chama-se Pedro e é catedrático de ciências humanas (provavelmente Literatura). Na cena, ele conta a sua primeira mulher (está casado com outra) sua paixão por uma aluna maluca.
O Marião me convidou porque o Pedro tinha a minha cara. Nesse sentido, o que eu precisava fazer era decorar bem o texto e encená-lo com os meus recursos - que até o momento são bem parcos. O Marião me passou as marcações e dicas de como fazer tal ou qual fala. Segui tudo ao pé da letra. O personagem saiu bem. Acabei tropeçando algumas vezes, mas posso dizer que fui aprovado.
Já no caso do Loureiro o personagem foi feito por nós (eu e Renata), mas não foi feita nele nenhuma gênese. Nem nome ele tem. É um sujeito que anda atrás de uma garota e que declara o seu amor. No caso do Loureiro, fizemos a cena diversas vezes - antes, numa oficina -, e ele ia aqui e ali lapidando os personagens com base em detalhes totalmente representativos. Senti dificuldade imensa. Eu tinha agora que interpretar. Qualquer gesto mínimo de minha parte poderia trair todo o personagem e toda a cena. Encenamos a cena (sorry pelo eufemismo) nas Satyrianas, nos Parlapatões. Diria que a cena saiu a contento - só não sei eu, que até o fim era a parte mais crítica de tudo.
No caso do Marião, eu dizia as coisas do meu jeito e esse meu jeito acabava traindo o personagem e dando margem a risadas (claro que não só o ator, dado que o texto é hilário, para dizer o mínimo). Se eu me metesse a interpretar poderia dar merda. Eu simplesmente deixei correr. Claro que com o tempo eu ia pesquisando mais e mais o personagem e atribuindo novas acepções a tudo o que ele experimentava e dizia. Mas isso foi um trabalho que fiz por opção. Eu poderia ter estancado em simplesmente atuar como eu mesmo falo, penso e ajo.
Já no caso do Loureiro minha forma de apreender a realidade poderia não contar para o personagem. Eu tinha que criar, em mim, formas de dizer - mesmo que estranhas ao Rodrigo indivíduo -, e isso criava em mim dificuldades imensas - além do que, deixando tudo de lado, eu tenho minha forma particular de ver as coisas, e isso interferia. Interferiu.
Haverá uma forma certa de fazer as coisas? Acho que não. Mas há com certeza a forma errada. Nesse sentido, aprendi tudo com eles, o Marião e o Loureiro. Eles, ambos os dois, percebiam muito bem o personagem, e eu tinha que fazê-lo adquirir vida. A direção era deles, a sensibilidade, deles. A capacidade para usar ou não meus recursos ou criar outros teria de vir de mim. Não à toa, quando vi o Louro fazendo o papel, para me dar alguns exemplos, eu consegui apreender melhor a liberdade de atuação naquela cena.
Hoje busco mais. Alguns projetos pessoais, alguns lugares a visitar, outros contatos a fazer, amigos com quem compartilhar as noites. Mas me sinto tendo sido parido. Finalmente.
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