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Mortes

ontem eu estava livre, conversando com uma amiga atriz, e tocamos no tema da morte. uma atriz conhecida de ambos morrera recentemente, e era relativamente jovem. 
sinto que a linha traçada entre vida e morte é ainda mais sutil e relevante para nós, vivos, do que simplesmente o fato de cruzarmos o fato de existirmos e de não mais existirmos. pois estamos todos vivos, sim, aqui desse lado do universo, mas sentimos claramente que as pessoas vivem e morrem mesmo antes de tombarem.
pessoa viva para mim é aquela que consegue fazer seu olhar encontrar o olhar do outro. que não precisa de subterfúgios para mostrar sua beleza - que sempre existe - e que não decepciona tanto a ponto de a descartarmos da nossa frente. pois para estar vivo para o outro é preciso pagar um preço. reparem que eu digo estar vivo para o outro, não simplesmente estar vivo. bilhões estão vivos neste mundo mas só uns poucos o estão para mim. poucos que eu quero que sejam muitos, mas que minhas limitações me fazem parar para pensar. ter um milhão de amigos é um desejo louvável, mas estudos dizem que todo ser humano, no frigir dos ovos, apenas se relaciona com por volta de 150 (o estudo está no youtube, mas não sei como encontrá-lo).
vivos ou mortos, então, precisamos conviver entre si. até o momento em que o convívio nos é retirado da nossa frente e precisamos percorrer o último caminho por nós mesmos.
o lou reed falou da última viagem.
é isso. ocorre que nessa viagem levamos todos conosco e todos nos levam consigo. quem são esses todos? nossos amigos.

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