Rudifran Pompeu,
presidente da CPT (Cooperativa Paulista de Teatro), para o jornalista Rodrigo
Contrera.
Em que consiste a
luta pelos 100 milhões? O proac editais é uma espécie de cobertor curto
para suprir as demandas do teatro paulista. Existem uma infinidade de cias, grupos,
trupes e artistas independentes no interior do estado e os atuais 30 milhões
para o estado todo, incluindo a capital, são insuficientes para contemplar
sequer uma pequena parcela dessa demanda! Ganhar um PROAC é mais difícil que
entrar em medicina na USP! A luta consiste em fazer o parlamento e o poder
executivo entenderem arte como necessidade básica, tão importante quanto
alimentação e saúde ...
Pelos meus dados,
existem 300 grupos de teatro (mais ou menos) na cidade? Existem mais! Essa
sua conta esta errada. Só na cooperativa que eu presido existem cerca de 700
grupos inscritos e é claro que talvez uma parcela desses não esteja trabalhando
com frequência, mas certamente existem muito mais do que 300 no estado inteiro ...
Os recursos atuais
não são suficientes? Os recursos são para o estado todo e tem sempre aquela
divisão que para a capital fica um percentual maior em função da demanda que se
tem aqui, e dessa vez uma das reivindicações do interior é que se faça igual
para ambas regiões... 50% para capital e a mesma coisa para interior, pois só
assim vamos fortalecer-nos enquanto artistas e militantes no interior do
estado...
Ou seja, os 100
milhões são para recursos para os 700 e tantos grupos? São para o programa
proac editais e são para o estado todo!
A demanda diz
respeito apenas a grupos e profissionais cooperativados? A demanda é para
todo e qualquer coletivo de teatro e ou artista interessado em produzir arte e
cultura. Não precisa ser cooperativado para participar, não existe restrição
nesse sentido. Obviamente que se concorre a um edital publico e lá tem alguns
critérios, mas não existe absolutamente nada com relação a cooperativas,
associações e etc...
Em que vêm
consistindo os atos em prol dos 100 milhões? A gente vem articulando o
movimento para pressionar o estado, para exigir do parlamento um posicionamento
mais producente, mais real e que se posicionem com relação a cultura como
elemento básico na construção da cidadania.
Que atos já foram
feitos? Ocupamos a ALESP e pressionamos dentro da plenária para que liberem
os recursos na ordem de 100 milhões para o PROAC editais. Fizemos e retomamos o
fórum do interior, aonde tudo vem sendo discutido com mais amplitude. A
cooperativa está abrindo um braço no interior do estado(em Campinas) e em breve
deve inaugurar mais 5 cidades com o intuito de construir espaços de debate e
reflexão a cerca de nosso ofício e de nossa relação com a cidade e o país onde
vivemos... Os artistas que residem fora do circuito das capitais acabam isolados
e são esquecidos pelos gestores, já que a capital é realmente uma maquina muito
ruidosa e ligeira... Por isso a cooperativa tenta de forma inédita construir
seus “escritórios” fora da capital e trazer para dentro do circulo da disputa
do pensamento e da politica cultural, todos os companheiros que estão
produzindo no interior, litoral e Grande São Paulo...
Como tem sido a
aceitação pela comunidade teatral? Essa luta é de todos e a aceitação tem
sido bem forte!
Os apoiadores sabem
exatamente de onde vêm as demandas? As demandas vem das necessidades de
quem vive na labuta do teatro todo dia...
Ou os profissionais
de teatro apoiam meio que por inércia? Não dá para fazer militância com inércia,
quem está na luta está e ponto. O que acontece é que muitas vezes meia dúzia
quer buscar o poder e usa o espaço das lutas para acender o seu próprio foco...
A isso já estamos acostumados...
Afinal, quem poderia
se opor a ganhar 10 vezes mais? Acredite , essa luta ainda não é a mais
importante , o que de fato queremos é que se abra e se institua o Fundo Estadual de Cultura e
que ele cumpra o seu papel e nos permita criar uma política de estado para a
cultura e não politica de governo que muda a cada vez que mudam os gestores... E
esses 100 milhões que pedimos é dinheiro de pinga para o governo de são paulo.
Isso proporcionalmente é muito pouco para quem tem a imensa produção que tem
essa unidade federativa.
Como você
justificaria a demanda por 100 milhões na medida em que pesquisas mostram que
grande parte do público nutre um grande desinteresse pelo teatro de forma
geral? Isso é conversa pra boi dormir. Se formos comparar então a queda do
ibope da TV depois da era da internet, devíamos pelo menos cassar as concessões
aos grandes meios de comunicação que não alcançam determinados índices. O que
existe no teatro é que a formação de público precisa ser ativada na educação,
na base da escola... Tem uma grande parcela da população que nunca sequer ouviu
falar de teatro, então como pode ter desinteresse por algo que vc nem sabe que
existe? O teatro é o espaço da resistência... É onde se produz a transgressão.
Teatro não foi feito para agradar ninguém, teatro é para transgredir o que está
posto, arte não é entretenimento, arte não é o espaço da adequação, arte é o
espaço da explosão da transformação, por isso não se pode medir o teatro por
pesquisa, não se pode medir o teatro pela régua do mecado, ele é exatamente a
contramão de tudo... É profano e sacro, é odiado e amado na mesma intensidade e
tudo está a serviço do movimento da vida e do que se pode ver além... Não à toa
que esta por aí há mais de 3 mil anos...
Como você justifica,
perante os detentores do poder, a necessidade de recursos para todos os grupos
da cidade? Justifico que os grupos e artistas fazem e produzem mais do que
as secretarias responsáveis por viabilizar isso, portanto devem se movimentar e
entrar na luta para ampliar os recursos para o estado todo! Essa luta não é só
para a cidade!
Quais vão ser os
próximos passos nessa luta? Estamos pensando na ocupação da ALESP novamente
cobrando da frente parlamentar de cultura e dos deputados uma atitude! Que
digam publicamente se se são a favor ou contra essa demanda...mas que digam!
Quais os prazos para
ter a luta ganha? Já estamos atrasados, e as noticias não são boas... Parece
que a comissão de orçamento avaliou e aumentou em só 4
milhões. Vamos lutar até chegarem minimamente nos 100 milhões...
Espera-se transformar
a demanda como da cooperativa independente de sua presidência, ou mais como uma
bandeira independente dos grupos que eventualmente sejam presidentes da
cooperativa? Entenda que a cooperativa representa 4 mil artistas e mais de
700 grupos. Portanto ela está ao lado dessa luta junto com o fórum do interior,
junto com os companheiros que não são cooperados, e isso não tem absolutamente
nada a ver com ser ou não presidente, é uma luta pela causa do teatro que todos
aqui fazem. Só estou nesse espaço pelo fato de ser um dirigente de uma entidade
muito forte como é a cooperativa...mas essa é uma demanda de todos interessados
a ampliação dos recursos...
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