não me lembro exatamente de como começou meu envolvimento com o teatro. mas esse envolvimento tem tudo a ver com a luz, no sentido estrito ou figurado.
lembro-me de que trabalhava no Pelé.net e que o Christian Carvalho Cruz sugeriu que eu visse a peça que o Vertigem fazia à época. recusei. disse que eu não iria aguentar. era muita luz para minha situação.
ainda no Pelé.net, encontrei um dia o Sérgio de Carvalho, que me sugeriu a peça que o Gerald (Thomas) estava fazendo (Esperando Beckett). fui. saí convicto de que não estava sozinho. e de que a luz podia criar um novo mundo em que eu pudesse me adaptar.
nas minhas andanças no teatro, considero a luz algo concreto. tão concreto quanto madeira. com uma ressalva: a luz pode assumir qualquer forma. e desaparecer num átimo.
as peças do marião usam uma luz tranquila, simples sem ser simplória. está lá, a luz, mas é como se não estivesse. gosto em especial quando a luz, nas peças dele, some quase por completo e quando as sombras são agora as únicas a fazerem movimentos significativos. gosto da fantasmagoria do entreato.
mas (infelizmente) também gosto da luz como espetáculo à parte. quando ela é que dita o tom, quando é ela que concentra as atenções. digo infelizmente porque tenho certa relutância em admitir tanta espetacularização em mundos em que a pegada é outra. em que o mundo interno surge para chamar a atenção. pois realmente não gosto teatro com enredo, final, moral (isto é inaceitável, realmente). prefiro cenas soltas e a liberdade de criar o que for em minha mente. a luz permite isolar e conectar. mais, acho um exagero - embora costume ficar lindo, lindo mesmo. como por exemplo nas peças de bob wilson. ou nas do gerald mesmo. ou naquilo que vejo das iniciativas do caetano vilela.
no fundo, bem lá no fundo, gostaria muito de poder contar com a estrutura de shows de rock em termos de iluminação. transformar tudo numa espécie de fonte impossível de conter, em algo que ultrapassa qualquer medida. mas quase todo o teatro dispensa esse tipo de bobagem. o teatro é sutil, ou deve ser sutil, e não simplesmente um espetáculo hollywoodiano. assim como o cinema, que não precisa ser composto de cenas de ação para interessar. que pode ser sutil, como todos os filmes do bergman, por exemplo.
em minhas peças, que com uma exceção foram apenas apresentadas nas satyrianas, usei luz de várias formas. ora como um spot agressivo, que acende e apaga como se num interrogatório, ora na ausência quase absoluta da mesma, ora com velas, ora com luz ambiente (à tarde), ora com um spot num palco vazio focada em máscaras que voam, etc. posso dizer que já usei a luz de forma bem interessante. mas sinto haver todo um universo escondido por trás da luz. um universo que não consigo destrinchar, e que só me vem ainda de forma chapada. luz aqui, luz acolá, etc.
e pensar que minha primeira iniciativa em compor peça muda com luz consistia em utilizar um programa que conseguisse acompanhar as andanças de uma obra de mais de 40 minutos em piano-solo. começar pelo fim era isso aí.
um dia, um dia.
lembro-me de que trabalhava no Pelé.net e que o Christian Carvalho Cruz sugeriu que eu visse a peça que o Vertigem fazia à época. recusei. disse que eu não iria aguentar. era muita luz para minha situação.
ainda no Pelé.net, encontrei um dia o Sérgio de Carvalho, que me sugeriu a peça que o Gerald (Thomas) estava fazendo (Esperando Beckett). fui. saí convicto de que não estava sozinho. e de que a luz podia criar um novo mundo em que eu pudesse me adaptar.
nas minhas andanças no teatro, considero a luz algo concreto. tão concreto quanto madeira. com uma ressalva: a luz pode assumir qualquer forma. e desaparecer num átimo.
as peças do marião usam uma luz tranquila, simples sem ser simplória. está lá, a luz, mas é como se não estivesse. gosto em especial quando a luz, nas peças dele, some quase por completo e quando as sombras são agora as únicas a fazerem movimentos significativos. gosto da fantasmagoria do entreato.
mas (infelizmente) também gosto da luz como espetáculo à parte. quando ela é que dita o tom, quando é ela que concentra as atenções. digo infelizmente porque tenho certa relutância em admitir tanta espetacularização em mundos em que a pegada é outra. em que o mundo interno surge para chamar a atenção. pois realmente não gosto teatro com enredo, final, moral (isto é inaceitável, realmente). prefiro cenas soltas e a liberdade de criar o que for em minha mente. a luz permite isolar e conectar. mais, acho um exagero - embora costume ficar lindo, lindo mesmo. como por exemplo nas peças de bob wilson. ou nas do gerald mesmo. ou naquilo que vejo das iniciativas do caetano vilela.
no fundo, bem lá no fundo, gostaria muito de poder contar com a estrutura de shows de rock em termos de iluminação. transformar tudo numa espécie de fonte impossível de conter, em algo que ultrapassa qualquer medida. mas quase todo o teatro dispensa esse tipo de bobagem. o teatro é sutil, ou deve ser sutil, e não simplesmente um espetáculo hollywoodiano. assim como o cinema, que não precisa ser composto de cenas de ação para interessar. que pode ser sutil, como todos os filmes do bergman, por exemplo.
em minhas peças, que com uma exceção foram apenas apresentadas nas satyrianas, usei luz de várias formas. ora como um spot agressivo, que acende e apaga como se num interrogatório, ora na ausência quase absoluta da mesma, ora com velas, ora com luz ambiente (à tarde), ora com um spot num palco vazio focada em máscaras que voam, etc. posso dizer que já usei a luz de forma bem interessante. mas sinto haver todo um universo escondido por trás da luz. um universo que não consigo destrinchar, e que só me vem ainda de forma chapada. luz aqui, luz acolá, etc.
e pensar que minha primeira iniciativa em compor peça muda com luz consistia em utilizar um programa que conseguisse acompanhar as andanças de uma obra de mais de 40 minutos em piano-solo. começar pelo fim era isso aí.
um dia, um dia.
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