Pular para o conteúdo principal

encontros e desencontros

hoje à noite, lá pelas 10, vai acontecer, no club noir (augusta, 331, acho), um debate sobre teatro com o alvim e o ruy filho. estará também o autor de hyeronimus nas masmorras, que está sendo apresentada até o final do mês (ou algo mais). espero poder ir a ambos.


fiz um breve curso de história de teatro, de graça, com o alvim. fiquei surpreso com a integridade de sua visão da história e com a intenção de coroá-las com suas propostas. jovem mas já tarimbado, o alvim capturou, no curso, momentos relevantes da história do teatro e localizou a contemporaneidade em relação a ela. claro que esta explicação não resume tudo o que o alvim deu. nem poderia. a questão foi que ele nos preparou para o novo. esta terça ele lançou um livro sobre sua proposta, dramáticas do transumano, que espero poder ler com calma.

o ruy filho diz que eu sou inquieto ("talvez o mais inquieto, dedicado ao estudo do teatro"). fato é que não consigo, salvo raras exceções, vislumbrar novos caminhos nisso que assisto por aí. que tem muita coisa boa por aí, disso não há dúvida. mas não consigo ver o novo nisso tudo. isso não significa que permaneça insatisfeito, em longa meditação com os meus botões. nada, não me canso de ver novas peças por aí, e só para vocês saberem meus próximos passos serão sair cada vez mais do centro e me virar para encontrar trabalhos em outros bairros, especialmente na zona sul, que é mais próxima de onde eu moro.

desconfio um pouco desse negócio de quebrar a cabeça para vislumbrar o novo. refiro-me a discussões teóricas. sei do seu valor, que não menosprezo, mas no fundo tendo a entender que o novo surge, não diria de improviso, mas quase inadvertidamente. assim foi com muito do que temos por aí. e com muito do que nos legaram as vanguardas européias, que foram e são as mais influentes por aqui.

mas fico contente em poder acompanhar o rumo do que acontece, seja como espectador, como amigo ou como ator em formação. o palco é algo que me puxa, que me coloca sob sua influência e que demanda cada vez mais o meu esforço. aonde isso vai me levar, não sei. mas novos rostos aparecem todos os dias e quem sabe um dia eu consiga voar. a muito custo, é claro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c...