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Hieronymus nas Masmorras (autor Leprevost, direção Roberto Alvim)

A peça apresenta um personagem, historicamente indefinível, algo medieval mas – como se verá – atento à contemporaneidade, patético e interessante. Uma espécie de guerreiro de meia tigela, baixo como si só, mas ao mesmo tempo sério em sua busca – do quê, não se sabe muito bem, mas claramente em oposição a uma realidade também indefinível mas contemporânea. O texto conduz a um autoexame de Hieronymus, em suas motivações, sua própria existência, sua força, sua determinação, e a um defrontamento com personagens retirados de uma espécie de almanaque medieval – um andarilho e um homem das cavernas com espada e pronto para matar. Posteriormente o defrontamento de Hieronymus – que alcança o poder – é com ele mesmo. Texto difícil, irônico e forte, que nos deixa numa espécie de locus  mitológico externo a qualquer mitologia e que nos apresenta um “e se...” cujo destino tornou-se uma incógnita (não por outro motivo senão pelo fato deste resenhista ter sido impedido a ver o fim – duas frases –por uma tosse impossível de conter). Mas notou-se, ocorre uma exacerbação de poder e um enfrentamento de Hieronymus com seu próprio poder até a autoanulação. Texto “impossível de encenar”, segundo Alvim, Hieronymus é suficientemente rico para motivar leituras as mais diversas. O espetáculo mantém o interesse mesmo com cenas paradas, diálogos monológicos e ações meramente simbólicas. Galdino, como sempre, atrai e enternece, e Grasson e outros sustentam o papel simbólico dos personagens indefiníveis.

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Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

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