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as suplicantes

Surge a luz. Aparecem "personagens" ou "personas". Todos nos cantos de um cenário vazio, enquadrado por uma moldura retangular de aço. Os personagens entram. Pisam no espaço interno do retângulo e recitam as linhas do texto, o primeiro do teatro mundial. Perco-me na necessidade de dar sentido àquilo que perco, enquanto as falas continuam e permaneço perdido, sem saber a que lado elas se dirigem. Todos os personagens entram, o primeiro sendo uma mulher no fundo do palco, em falas que não são dramáticas por o "dramático" estar absolutamente fora de contexto. Num determinado momento, personagem masculino à esquerda revela a fala gravada num gravador de mão, criando contraste espaço-temporal. O tempo transcorre praticamente sem qualquer ação. Os personagens mal se mexem e quando falam é num registro contido, quase impessoal. Apaga-se a luz. Seria necessário rever e rever para principiar a entender. Não me ponho a criticar o cenário, mas ele com toda certeza estabelece a relação entre o plástico de hoje com o estético de ontem, do começo dos tempos do teatro.

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Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

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