Tomo a liberdade de tratar o novo filme da Tata Amaral como uma peça de teatro. Por diversos motivos, o maior deles o fato de que praticamente todo o filme transcorre num apartamento vazio (em fase de mudança) e no fato de que muito da apreensão do filme vem do embate íntimo entre os personagens.
Vera (ou Ana Maria), interpretada por Denise Fraga, é uma ex-guerrilheira que recebe ressarcimento do governo brasileiro pelo desaparecimento do seu então marido (cujo nome me escapa). Com o dinheiro ela compra um apartamento no centro de São Paulo. Cesar Troncoso interpreta o ex-marido que reaparece sem aviso. Todo o filme transcorre enquanto carregadores fazem a mudança.
Aquilo que poderia ser tido apenas como uma reflexão sobre os resquícios íntimos da ditadura revela-se como um combate em que o que está em jogo é a ligação sentimental entre os personagens, após tantos anos, a culpa resultante de como se deu a captura e a tortura em ambos e a necessária resolução do problema: reaparecendo o ex-marido, o apartamento deveria ser devolvido? O ex-marido poderia morar com ela? Os sentimentos de um e de outro teriam se mantido intactos? Ou houve na verdade um momento de rompimento inapelável entre os dois?
Denise mostra-se no personagem num misto de resoluta, dividida, destruída, safada e animada, enquanto Troncoso demonstra menos, pois com menos recursos, a situação emotiva e concreta do ex-guerrilheiro. A ação transcorre entre leituras de cartas trocadas por ambos, como num necessário trabalho de releitura da memória, e de situações em que o ponto de vista de um dos personagens é defrontado com a sua percepção atual por parte do outro. Para isso, são usadas projeções das quais participam os personagens em carne e osso.
O tema pesado pode espantar a uns e outros, mas o trabalho de enfrentar o passado é louvável. Vez ou outra o filme descamba num certo emocionalismo, mas o tempo todo a direção é certeira e esse emocionalismo não desmerece o trabalho como um todo.
Vera (ou Ana Maria), interpretada por Denise Fraga, é uma ex-guerrilheira que recebe ressarcimento do governo brasileiro pelo desaparecimento do seu então marido (cujo nome me escapa). Com o dinheiro ela compra um apartamento no centro de São Paulo. Cesar Troncoso interpreta o ex-marido que reaparece sem aviso. Todo o filme transcorre enquanto carregadores fazem a mudança.
Aquilo que poderia ser tido apenas como uma reflexão sobre os resquícios íntimos da ditadura revela-se como um combate em que o que está em jogo é a ligação sentimental entre os personagens, após tantos anos, a culpa resultante de como se deu a captura e a tortura em ambos e a necessária resolução do problema: reaparecendo o ex-marido, o apartamento deveria ser devolvido? O ex-marido poderia morar com ela? Os sentimentos de um e de outro teriam se mantido intactos? Ou houve na verdade um momento de rompimento inapelável entre os dois?
Denise mostra-se no personagem num misto de resoluta, dividida, destruída, safada e animada, enquanto Troncoso demonstra menos, pois com menos recursos, a situação emotiva e concreta do ex-guerrilheiro. A ação transcorre entre leituras de cartas trocadas por ambos, como num necessário trabalho de releitura da memória, e de situações em que o ponto de vista de um dos personagens é defrontado com a sua percepção atual por parte do outro. Para isso, são usadas projeções das quais participam os personagens em carne e osso.
O tema pesado pode espantar a uns e outros, mas o trabalho de enfrentar o passado é louvável. Vez ou outra o filme descamba num certo emocionalismo, mas o tempo todo a direção é certeira e esse emocionalismo não desmerece o trabalho como um todo.
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