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Quartos de Hotel (Texto e direção Mário Bortolotto)

Seis quadros. Nem tão breves, nem tão longos. Cliente de prostituta que quer apenas desabafar. Noiva dividida entre amar e odiar seu noivo às vésperas do casamento. Amiga que se revela amando a mulher do melhor amigo. Gordo amante à beira de matar a própria mãe para agradar a amante interesseira. Namorado não aguentando mais. Sujeito louco para transar com duas irmãs, que perdem a esperança de encontrar o amado perfeito. Todos à beira ou em cima de uma cama, que muda de posição a depender da cena (e que quebrou rs). Tudo muito agradável e bem tramado, sempre com recursos mínimos. Os recursos de cena e de iluminação são simples e eficazes (como sempre nas peças do Marião). Os momentos entre as cenas trazem certa melancolia, pelas sombras dos personagens que se movimentam como que perdidas. As trilhas conduzem o espectador ao universo blues que embala qualquer cidade grande. A um desavisado, pode parecer que pelo inusitado das cenas o desfecho deve ser fundamental. O que não acontece, dada a concisão, verossimilhança e comicidade dos diálogos. A gente sai leve, sem sentir o tempo passar, embalado por um mundo subterrâneo que se mostra cada vez mais nosso.

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Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

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