São três cenas médias, não curtas. Elas ocorrem em sequência, com pequenos intervalos.
A primeira, Adorável Callas, aproxima duas personagens que por não conseguirem se complementar, permanecem entre o dio e o desdito. Uma, dançarina famosa que se recupera de uma lesão; a outra, enfermeira que gostaria de não cuidar da primeira e que, sem ter com quem compartilhar, fala de episódios de sua vida amorosa. Os relatos desta última são crus.
Chama a atenção a economia de gestos da primeira, que praticamente não fala, e o falatório incessante da segunda, que desgosta da primeira mas que parece não poder admiti-lo, para ela mesma e para a primeira. A ação transcorre com elas distantes, aproximando-se apenas para a enfermeira ajudar a fazer os exercícios do braço da dançarina. Há uma relação de ironia na dançarina com respeito à enfermeira e de ódio contido desta com relação àquela. O final tem um quê de melancólico.
A segunda cena, O Homem das Viagens, é conduzida quase todo o tempo por um monólogo do viajante que narra cenas de crueldade e canibalismo, embaladas pela música de Sinatra. Enquanto ele fala, desqualificando aqueles que imaginam o ato de assassinato como um descontrole, uma mulher manca serve doces e mais doces numa mesa, sem falar nada. De repente, eles conversam e ela lhe diz o quão feliz é ela ao ouvi-lo. Ele estranha um pouco, ela oferece-lhe mais doces, ele a princípio recusa, mas no final aceita. Ela continua trazendo mais doces e convida-o para jantar. Ele nota o desejo de aproximação da parte dela, e recusa. Diz-lhe não poder imaginar-se casando com uma mulher manca ("torta", diz ele). Estabelece-se um afastamento. Conversam sobre o tempo. Algo esfuma-se no ar. O final traz nova energia em cena.
A terceira cena, Cruzamentos, estabelece o diálogo entre um patrão de origem judaica que rememora o desaparecimento do seu melhor amigo, em Israel, sequestrado pelos palestinos, mas que precisa desabafar com o empregado, também motorista, que ele deseja ao seu lado. Em diálogos entremeados por ironias retiradas das relações entre classes sociais, com o tempo o patrão mostra desejar novamente um determinado tratamento pelo seu empregado. Despe-se o primeiro e o segundo lhe passa cremes esfoliantes, ao que parece, criando uma relação médico-paciente relacionada pela dor. De repente, o patrão exige que o empregado lhe faça o que já fez antes, e isso revela a real dimensão do questionamento existencial do patrão. Tudo torna-se claro e a dor quase palpável.
São todas cenas em tempos cuidadosamente medidos, que mantêm a atenção do espectador, e que transcorrem sem muitos percalços. Em todas, algo de escondido; em todas, algo a ser revelado ou a ser estabelecido contrastando com a relação formalmente estabelecida entre os personagens. Conflitos, sim, mas contidos. Bem conduzidas, as cenas poderiam desaparecer sem dizer a que vieram. Mas deixam à mostra (as duas primeiras) certo vazio. A relação em questão. Já a terceira como que revela, e por isso pára por aí.
A primeira, Adorável Callas, aproxima duas personagens que por não conseguirem se complementar, permanecem entre o dio e o desdito. Uma, dançarina famosa que se recupera de uma lesão; a outra, enfermeira que gostaria de não cuidar da primeira e que, sem ter com quem compartilhar, fala de episódios de sua vida amorosa. Os relatos desta última são crus.
Chama a atenção a economia de gestos da primeira, que praticamente não fala, e o falatório incessante da segunda, que desgosta da primeira mas que parece não poder admiti-lo, para ela mesma e para a primeira. A ação transcorre com elas distantes, aproximando-se apenas para a enfermeira ajudar a fazer os exercícios do braço da dançarina. Há uma relação de ironia na dançarina com respeito à enfermeira e de ódio contido desta com relação àquela. O final tem um quê de melancólico.
A segunda cena, O Homem das Viagens, é conduzida quase todo o tempo por um monólogo do viajante que narra cenas de crueldade e canibalismo, embaladas pela música de Sinatra. Enquanto ele fala, desqualificando aqueles que imaginam o ato de assassinato como um descontrole, uma mulher manca serve doces e mais doces numa mesa, sem falar nada. De repente, eles conversam e ela lhe diz o quão feliz é ela ao ouvi-lo. Ele estranha um pouco, ela oferece-lhe mais doces, ele a princípio recusa, mas no final aceita. Ela continua trazendo mais doces e convida-o para jantar. Ele nota o desejo de aproximação da parte dela, e recusa. Diz-lhe não poder imaginar-se casando com uma mulher manca ("torta", diz ele). Estabelece-se um afastamento. Conversam sobre o tempo. Algo esfuma-se no ar. O final traz nova energia em cena.
A terceira cena, Cruzamentos, estabelece o diálogo entre um patrão de origem judaica que rememora o desaparecimento do seu melhor amigo, em Israel, sequestrado pelos palestinos, mas que precisa desabafar com o empregado, também motorista, que ele deseja ao seu lado. Em diálogos entremeados por ironias retiradas das relações entre classes sociais, com o tempo o patrão mostra desejar novamente um determinado tratamento pelo seu empregado. Despe-se o primeiro e o segundo lhe passa cremes esfoliantes, ao que parece, criando uma relação médico-paciente relacionada pela dor. De repente, o patrão exige que o empregado lhe faça o que já fez antes, e isso revela a real dimensão do questionamento existencial do patrão. Tudo torna-se claro e a dor quase palpável.
São todas cenas em tempos cuidadosamente medidos, que mantêm a atenção do espectador, e que transcorrem sem muitos percalços. Em todas, algo de escondido; em todas, algo a ser revelado ou a ser estabelecido contrastando com a relação formalmente estabelecida entre os personagens. Conflitos, sim, mas contidos. Bem conduzidas, as cenas poderiam desaparecer sem dizer a que vieram. Mas deixam à mostra (as duas primeiras) certo vazio. A relação em questão. Já a terceira como que revela, e por isso pára por aí.
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