Preciso discorrer
brevemente sobre Grotowski e como seu teatro tem algo a ver com aquilo que
venho pensando - mas nada a ver com aquilo que pode parecer.
Não assumo que a
pessoa que vier a ler isto tenha lido nada do polonês. Não assumo mesmo. Até
porque cada um é livre para propor o teatro que quiser - e nada me diz que eu,
por ser diretor do meu pequeno grupo, tenha posição privilegiada a respeito.
Mas preciso ser claro quanto àquilo que eu entendo.
Vamos a ele, em Para
um teatro pobre (existem duas traduções, que ponho uma após a outra): "O
nosso método não é dedutivo a partir de um conjunto de habilidades. Nele, tudo
se concentra no 'amadurecimento' do ator que se expressa através de uma tensão
levada ao extremo, de um completo desnudar-se, da exposição da própria
intimidade - e tudo isso sem nenhum traço de egoísmo ou deslumbramento"
(primeira tradução). Ou: "O nosso não é um método dedutivo para colecionar
técnicas. Aqui tudo se concentra na 'maturação' do ator que é expressa por uma
tensão em direção ao extremo, por um completo desnudar-se, por um revelar a
própria intimidade: tudo isto sem a mínima marca de egoísmo ou de
autocomplacência" (segunda tradução).
Pensei agora que
talvez eu devesse ter começado estes textos com uma explicação do que era
entendido por Grotowski e grupo por "teatro pobre". Digo isso porque
aquele não familiarizado pode talvez "entrar" no entendimento por
essa via. Mas penso aqui comigo que há coisas, em nosso trabalho, que embora
tenham similitudes com o teatro deles não derivam de situações orientadas da
mesma forma. Não fazemos um teatro "pobre" por uma postura dogmática.
Simplesmente apostamos em cenas no bar do Club Noir porque é um espaço como
qualquer outro e porque no fundo considero (EU considero) que não é necessário
mais que um local e espectadores para fazer teatro. Quanto A QUAL teatro é
resultante disso, não vem muito ao caso por enquanto. Há quem, dentre nós,
queira "aparecer" melhor para os espectadores, com projeção de voz e
tal, ou quem prefira dar destaque ao figurino e à construção da cena em si.
Cada um de nós pensa o momento de uma forma. Não quero criar limites à
criatividade de cada um. Cada um, em cena, deve aparecer como bem lhe aprouver.
Já quanto a QUAL TIPO de teatro, de linguagem, eu queria ressaltar, isso vem ao
caso somente se nos entendermos, todos, os envolvidos, em que essa linguagem
possa revelar mais e melhor o que cada um pode e quer fazer.
Mas estou
"viajando". Claro, sempre, em qualquer situação, são muitos os
fatores envolvidos no entendimento do autor, do diretor, dos atores e dos
encenadores. Não vou ficar chovendo no molhado.
(continua)
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