Pular para o conteúdo principal

Desequilíbrio (curta, dir. Francisco García)


Assisti este curta há várias semanas, a primeira vez que fui ao Cine Parlapas - indicado pela Marcela Lordy, que apresentou seu primeiro curta por lá - esse que já comentei (não é o "Aluga-se"). Este, de Francisco García, tem Leona Cavalli no "papel" de uma prostituta que admira o "trabalho" de um sujeito que passa a cidade equilibrando-se, não se sabendo bem por quê, e que aparece os mais variados locais, alguns deles realmente estranhos.
Mas aquilo que poderia parecer pueril ou não dar sequer um argumento decente mostra-se um ponto de partida bem profícuo, pois somos colocados às voltas com o desequilíbrio da vida urbana, em última instância. Leona admira o equilibrista mas transita num desequilíbrio tal na vida que faz-nos crer que o que ela busca mesmo é sair dessa condição - e que não consegue.
Cria-se um tal clima de paz budista no sujeito que aparece aqui e acolá que somos levados a sentir uma escondida inveja dele - algo quase inconfessável neste mundo em que precisamos correr atrás de alguma coisa o tempo todo - dinheiro, reconhecimento ou mesmo paz. O equilibrista não corre atrás de nada, ele vive em paz em seu estado de busca do equilíbrio. Ele se equilibra como vive e vive para equilibrar-se.
Claro, o curta não tem trama, sendo assim. E não tem mesmo. O ato do equilibrar-se mostra-se secundário até certo ponto, focados que estamos na sensação de insustentabilidade da prostituta - que nada encontra para colocar no lugar de sua busca.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c