Transcrevi aqui uma cena em que a Rê atua comigo.
Ela era para ser outra, que fiz com a Lê. Mas virou outra, inspirada em Não amarás, do Kieslowski.
Eu queria ensaiar uma cena de amor com toques surreais. No caso, é uma cena de amor possível ou impossível em que as mãos fazem as vezes da boca, do corpo, do sexo, de tudo.
É a cena mais avançada na oficina do Loureiro. Ele mesmo disse que o bolo está pronto, só falta colocar algumas cerejas aqui e acolá.
Mas aqui comigo eu estranho. Por que não me sinto tão à vontade com o resultado? Algo com a Rê? Algo comigo? Eu tenho de expressar uma dor que pode se assemelhar a outra, real, que sinto há mais de ano e meio, quando me separei. Não creio que seja isso.
Ocorre que a cena destravou uma coisa em mim. Com ela percebi o quão longe estou de sentir como quero.
Outra cena, em que sou um homossexual cafetão, irá exigir também uma sensibilidade acachapante. Mas a energia nesse caso deve se conduzir necessariamente para outro lugar. No primeiro caso, há o destino, e sua crueza. No segundo, há a desilusão, e sua frieza. No primeiro caso, a direção é interna. No segundo, externa.
Eu já disse (acho) aqui que o teatro está me salvando. Só não sabia o quanto.
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