Como de praxe, todo mundo deveria saber que Paulo Autran estava doente. Ninguém morre de repente. Isso não quer dizer, porém, que à espera de sua morte todo mundo estivesse querendo usufruir, de alguma forma, da unanimidade criada ao seu redor. Mas quer dizer, sim, que ao entronizá-lo como exemplo seus fãs faziam eco, advertida ou inadvertidamente, aos seus últimos dias, ora para homenageá-lo, ora para esconder suas (deles) próprias carências. Torna-se comum hoje admitir, por um lado, o desmesurado crescimento das iniciativas artísticas sob a batuta do que se chama teatro, e, por outro, a desigual qualidade dos projetos em voga, seja sob o ponto de vista técnico (profissionais "amadores"), seja crítico (profissionais "vendidos" a projetos caça-níqueis). Paulo Autran, nesse panorama, parece pairar, altaneiro, distante de quaisquer críticas. Ora enaltecidas sob o prisma de "uma vida dedicada ao ofício de ator", ora como "profissional com elegância e dedicação ímpares, sem descambar em rigorismo chato", as qualidades de Paulo Autran parecem superar, em potência e alcance, as misérias hoje mais do que presentes. Resta saber, porém, quem, dos que atualmente carregam sua própria batuta, mantém seus mesmos ideais a todo custo, por cima da busca de sucesso fácil. Produz-se muito, hoje, sim. Mas produz-se com rigor, elegância e humor dos da antiga cepa, dessa de Autran? É uma questão. Quem, dos atuais, carrega o fardo da eloquência a todo custo? Quem, dos atuais, prefere treinar sem descanso a varar noites seguidas curtindo as noites em claro que fazem tanto prazer aos seres da arte? É só uma pergunta. E perguntar não ofende. Ofende?Morreu Autran? Viva Autran.
Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...
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