Pular para o conteúdo principal

Hieronymus nas Masmorras, de Luiz Felipe Leprevost, e (Em) Branco, de Patrícia Kamis (7 Letras)

Segundo livro de uma série de cinco, encabeçados por "Dramáticas do Transumano", de Roberto Alvim (veja resenha neste mesmo blog), o livro que inclui as peças de Leprevost e Kamis vem com um prefácio que resume (mas de forma alguma esgota) a proposta de Alvim para o entendimento dessas oito obras resultantes de oficina transcorrida em Curitiba com dramaturgos iniciantes que ele vem publicando uma após a outra.


Nesse sentido, resenhar os textos presentes neste livro suporia, antes de entender a proposta de Alvim, reconhecer que nisso que é revelado há algo de estranho no reino da dramaturgia. Ao que não é difícil de se chegar.

"Hieronymos", de Leprevost, foi a primeira das obras do ciclo encenada pela Cia Club Noir. Lembro-me como se fosse hoje da estreia, a que compareci, e que foi acompanhada de uma provocativa explanação do dramaturgo e crítico Ruy Filho e de um bate-papo com o próprio Leprevost. Lembro-me também da forma pela qual Alvim escolheu fazer representar o Hieronymus (claramente retirado do pintor pré-renascentista) e sua trajetória apenas rascunhada na peça e que Alvim pretendeu colocar em cena de forma inovadora. Causou uma certa estranheza tudo isso que fora proposto, e era afinal essa a intenção.

O mesmo ocorreu com a obra de Kamis, que na estreia contou com uma explanação do dramaturgo e professor Luciano Mazza e com um bate-papo com a autora. Posso dizer que a forma pela qual a obra foi encenada (com 3 figuras imóveis, cada uma de uma cor diferente, encenando um texto aparentemente chapado e inexpressivo) causou também uma forte impressão, a ponto de começar a entender algo a partir de uma declaração da dramaturga e atriz Kamis quanto àquilo que realmente experimentamos - um "branco", uma tela em branco em que colocamos o real. Muito interessante, também.

A quem aprecia tanta provocação (na medida, além disso, do fato de que as encenações de Alvim e Galdino são, segundo eles, apenas "umas" leituras, havendo com certeza muitas outras), adquirir este livro é uma boa pedida. Mas não se queira ter bichos com pés e cabeças. Os tempos são outros e tentar enjaular o pensamento ou a arte é sinal de tempos há muito passados.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c