A sua grande chance, em Retratos Falantes, de Alan Bennett (dir. Eduardo Tolentino de Araújo) (Repertório de Verão 2013, Grupo Tapa)
O flyer adianta que serão dois monólogos, um com a Bárbara Paz, que eu nunca vira em cena, e a Clara Carvalho, que esteve em Breu (resenhado há semanas). Resenho o primeiro aqui, por enquanto.
"A sua grande chance", com a Bárbara, é um mergulho no universo ensimesmado de uma jovem atriz em busca de uma chance. Uma personagem que quem está acostumado a frequentar o universo teatral vê a todo lado, em estreias, teatros, saguões, bares, restaurantes, casas de shows e até mesmo na rua.
Vestida com um longo tailleur vermelho choque, aberto bem no meio das pernas, como nas caixas de Marlboro, a atriz vivida por Bárbara bem de chofre diz a que veio. Ela quer uma chance, é isso o que ela quer, mas, como não sabe exatamente como esta irá surgir, se surgir, busca enredar-se em situações que a levem até Lá. Para isso, não economiza de sedução. O problema é que ela escolhe mal. Deixa-se levar pelas aparências e entra em roubadas. Há uma sincera necessidade sexual rondando a todo momento, e o brochar não ocorre somente porque "ele" não é "aquele", mas por uma eloquente carência. Ela quer sexo e sucesso, e deixa claro: se possível, juntas. Claro que esse "deixar claro" não é literal (o que resultaria primário demais), mas outra leitura do que ela diz e que acontece é realmente difícil.
O texto de Bennett é ágil e ensimesmado. Apesar de a personagem se remeter à plateia, percebe-se que em grande parte do tempo ela se dirige a si mesma. Ou seja, ao invés de um monólogo, o texto é um solilóquio que dispensa o Outro. Nesse medida, o Outro representado por aquele que irá dar a chance tão esperada a ela não é sequer existente. Mas a gente o sente, e isso é legal. O número de remissões "ele disse", etc. demonstram que o monólogo também é dialógico, mas a graça está em que, quanto mais os diálogos são reproduzidos, mais parece-nos que a personagem permanece isolada e solitária. Engraçado sobremaneira é como a personagem dirige-se ao momento em que ela foi dirigida pelo próprio Polanski, o que é inusitado. Ele vira modelo em um mundo em constante mutação. Ela sabe que nada se comporta da mesma maneira, mas insiste em remeter-se a um passado remoto de uma felicidade inviável.
Da metade ao final, acompanhamos seu sucesso, ao encontrar um lugar. Mas esse lugar é povoado de dificuldades, e ela, ensimesmada como ela só, também tenta fazer frente a elas de uma forma toda peculiar. Num momento, fica claro que ela é uma atriz limitada, porque o diretor não quer transar com ela - ele não transa com más atrizes (sempre após o trabalho). Mas aí já fomos capturados por ela, que permanece impávida, como se no primeiro instante de tantas revelações.
"A sua grande chance", com a Bárbara, é um mergulho no universo ensimesmado de uma jovem atriz em busca de uma chance. Uma personagem que quem está acostumado a frequentar o universo teatral vê a todo lado, em estreias, teatros, saguões, bares, restaurantes, casas de shows e até mesmo na rua.
Vestida com um longo tailleur vermelho choque, aberto bem no meio das pernas, como nas caixas de Marlboro, a atriz vivida por Bárbara bem de chofre diz a que veio. Ela quer uma chance, é isso o que ela quer, mas, como não sabe exatamente como esta irá surgir, se surgir, busca enredar-se em situações que a levem até Lá. Para isso, não economiza de sedução. O problema é que ela escolhe mal. Deixa-se levar pelas aparências e entra em roubadas. Há uma sincera necessidade sexual rondando a todo momento, e o brochar não ocorre somente porque "ele" não é "aquele", mas por uma eloquente carência. Ela quer sexo e sucesso, e deixa claro: se possível, juntas. Claro que esse "deixar claro" não é literal (o que resultaria primário demais), mas outra leitura do que ela diz e que acontece é realmente difícil.
O texto de Bennett é ágil e ensimesmado. Apesar de a personagem se remeter à plateia, percebe-se que em grande parte do tempo ela se dirige a si mesma. Ou seja, ao invés de um monólogo, o texto é um solilóquio que dispensa o Outro. Nesse medida, o Outro representado por aquele que irá dar a chance tão esperada a ela não é sequer existente. Mas a gente o sente, e isso é legal. O número de remissões "ele disse", etc. demonstram que o monólogo também é dialógico, mas a graça está em que, quanto mais os diálogos são reproduzidos, mais parece-nos que a personagem permanece isolada e solitária. Engraçado sobremaneira é como a personagem dirige-se ao momento em que ela foi dirigida pelo próprio Polanski, o que é inusitado. Ele vira modelo em um mundo em constante mutação. Ela sabe que nada se comporta da mesma maneira, mas insiste em remeter-se a um passado remoto de uma felicidade inviável.
Da metade ao final, acompanhamos seu sucesso, ao encontrar um lugar. Mas esse lugar é povoado de dificuldades, e ela, ensimesmada como ela só, também tenta fazer frente a elas de uma forma toda peculiar. Num momento, fica claro que ela é uma atriz limitada, porque o diretor não quer transar com ela - ele não transa com más atrizes (sempre após o trabalho). Mas aí já fomos capturados por ela, que permanece impávida, como se no primeiro instante de tantas revelações.
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