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Mulheres, de Charles Bukowski (adaptação de Mário Bortolotto, direção de Fernanda D'Umbra)

Assisto a peça pela terceira vez motivado pela substituição da Fernanda pela Erika Puga, que tanto me agradou em Quartos de Hotel, dentre outras peças.


Já disse que sou suspeito para falar sobre as peças do Cemitério de Automóveis. Mas mesmo assim...

Confesso que da segunda vez que assisti a peça, fiquei com uma leve impressão de muito tempo de peça. Talvez porque a surpresa tenha sumido de minha frente. Quem sabe. Não sei bem. Sei que os intervalos entre as cenas não demoram agora muito - como aconteceu na estreia. Como disse o Marião, as cenas com o tempo engrenariam melhor. É o que acontece.

As cenas começam e vejo a Erika tímida. Não sei o que acontece. Lembro-me da Fernanda histriônica e sinto falta disso. A Lydia, personagem da Erika e Fernanda, parecendo tímida diante do Chinaski? Não combina. O tempo faz com que ela assuma o papel que lhe cabe. Mas, pena, vejo o papel em que deveria haver poemas em branco. Fico decepcionado. Algo cai. Mas tudo continua, as cenas sucedem-se e a integridade da peça é aos poucos retomada. Lembro-me de atuações como as da Samya, completamente louca por um lado e quadrada por outro, e percebo o quanto, ao se lidar com teatro, ganha-se com o tempo de peça em cartaz. Mudanças irrelevantes, dirão alguns. Não concordo. As pontas que faltava encaixar agora entram em ligação. A peça torna-se algo integral, algo que como todo faz mais sentido do que imaginando-o em partes. As atuações do Marião por um lado e da Wanessa por outro convencem demais. Tornam-se quase palpáveis. Falo como diletante, claro.

Os atos da peça encadeiam-se que é uma maravilha. Tudo acontece em meio a jogos de luz e sombra. As "deixas" da luz funcionam que é uma maravilha (repito-me, paciência). Saio completamente satisfeito. Poderá melhorar, tudo isso?

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