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Fugindo (atuação e direção: Rodrigo Contrera)

Esta talvez seja uma situação esdrúxula para muitos. O próprio autor e diretor opinando sobre si mesmo?


O texto já é antigo, tendo sido feito para o Gerald Thomas, respondendo a provocação dele mesmo: do que é que você foge, Contrera? O resultado foi dito numa peça dele, por mim mesmo, duas vezes. Depois esse texto foi usado em uma peça minha, inserido numa maior, que foi registrada na Biblioteca Nacional, houve quem quis tornar material para instalação, mas nunca foi dito encenado com o final determinado de o ator sumir de vez do local da encenação.

Não usei de nenhum dos recursos que a Lê (Letícia Trebbi) me colocou à disposição. Simplesmente parti de um local visto por todos (do centro da sala), fiquei de costas, peguei o microfone e disse o texto. As pessoas me olhavam completamente absortas. Lembro-me claramente do semblante de cada um. Houve quem esboçasse sorrisos enquanto eu falava os versos do poema-declamação, mas no geral a absorção era integral. Ao final, como o personagem foge, o ator some pelas ruas.

Os aplausos foram muitos. Foram 18 fichas para a apresentação (cada assistente podia colocar fichas em apresentações que lhes agradaram) e a primeira vez em que fui pago por atuar. Uma grana pequena, mas providencial. Venço, mas não apenas no palco. Percebo que meu feeling (do ator que some de vez) é correto. Eu imaginava isso. Mas não posso dizer que não fico ainda mais feliz com o resultado.

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