Vou assistir a peça convidado pelo Ruy Filho a escrever a quatro mãos uma resenha crítica com a atriz Renata Admiral. Chego bem cedo e encontro o dramaturgo e diretor César Ribeiro, com quem entabulo uma ótima conversa.
A peça foi encenada no espaço cênico do Sesc Pompeia, um local relativamente pequeno. A encenação ocorreu num retângulo formado por algumas mesas à frente e atrás, ladeadas por monitores e com diversos equipamentos de som (microfones, etc.), assim como com câmeras.
A peça parte de uma premissa que está no próprio programa: e se por alguma razão as obras de arte fossem limitadas, por um determinado concíclio, a 5 por país? Quais seriam as escolhidas? Quais as jogadas fora? Como o mercado da arte se comportaria em seguida? O que aconteceria com o surgimento de novas obras de arte? Etc.
Confesso que a premissa me desgostou um pouco. Não tendo a gostar muito de "sacações", entendem? Prefiro coisas que falem por si mesmas. Espetáculos que não partam de sacadas. Mas aqui o resultado foi interessante, preciso admitir. Vamos àquilo que aconteceu.
O espetáculo começa com um discurso. Um discurso dirigido a todos, como se estivéssemos numa civilização ou numa reunião civilizatória outra. É aqui que são expressas as premissas da peça, da sacada. Bem expressas. Não estamos em nossa civilização. Algo impeliu a todos rumo a essa conclusão. Rumo à eliminação das obras de arte. Em resumo: porque as obras refletem não mais a conquista civilizatória, mas a trajetória do artista. É este quem ganha. E não se quer mais isso. Quer-se valorizar a arte, e para tanto tem-se de eliminar a maioria delas.
Após isso, reuniões entre representantes da nação relativas ao concílio. São colocados argumentos contrários à proposta entre nações. Rebatidos. Não adianta se opor? Adianta? Não é achado consenso. Tudo vira um grande comício de representantes de posições diversas. Tudo de uma forma simples e direta. Os atores ocupam papéis variados. Passa-se por diversas outras situações. Seja de artista querendo vender sua arte. Seja de defensor do mercado da arte - zangado. Há momentos em que artistas defendem seus direitos, tendo sido roubados por determinado amigo ou colega. Um degrau da burocracia responde, tudo no legalês, mostrando a arbitrariedades das situações. Tudo de forma leve.
Deixo-me levar pela encenação. Muito não compreendo e gostaria de ver novamente. Muito me toca na razão e não cai na emoção. Muito fica a ser costurado. Mas tudo com humor sem igual. Graciosas demonstrações de erudição textual sem recair em bobajadas de indústria cultural e por aí vai.
Num determinado momento, artistas são pagos para dizerem um diálogo, em que um defende a posição de um representante que deve escolher sua quinta obra e o outro tenta convencê-lo a não escolher obra de seus pais, opositores do então governo vigente. O diálogo é áspero. Os artistas são pagos - de verdade - e vão embora. A arte passa a ser paga. Na nossa frente.
Termina a obra, o músico que fez trilha faz um bolão para ver quem paga mais pelas músicas compostas na hora. Há um leilão e alguém ganha. Ele diz depois, zoando, que as músicas estão todas na internet. Gozação. Uma sacada interessante. Hoje, o que é arte, afinal? Como valorizá-la, nesta época em que pode-se achar tudo a todo momento e, pior, de graça?
Talvez vá ver de novo.
A peça foi encenada no espaço cênico do Sesc Pompeia, um local relativamente pequeno. A encenação ocorreu num retângulo formado por algumas mesas à frente e atrás, ladeadas por monitores e com diversos equipamentos de som (microfones, etc.), assim como com câmeras.
A peça parte de uma premissa que está no próprio programa: e se por alguma razão as obras de arte fossem limitadas, por um determinado concíclio, a 5 por país? Quais seriam as escolhidas? Quais as jogadas fora? Como o mercado da arte se comportaria em seguida? O que aconteceria com o surgimento de novas obras de arte? Etc.
Confesso que a premissa me desgostou um pouco. Não tendo a gostar muito de "sacações", entendem? Prefiro coisas que falem por si mesmas. Espetáculos que não partam de sacadas. Mas aqui o resultado foi interessante, preciso admitir. Vamos àquilo que aconteceu.
O espetáculo começa com um discurso. Um discurso dirigido a todos, como se estivéssemos numa civilização ou numa reunião civilizatória outra. É aqui que são expressas as premissas da peça, da sacada. Bem expressas. Não estamos em nossa civilização. Algo impeliu a todos rumo a essa conclusão. Rumo à eliminação das obras de arte. Em resumo: porque as obras refletem não mais a conquista civilizatória, mas a trajetória do artista. É este quem ganha. E não se quer mais isso. Quer-se valorizar a arte, e para tanto tem-se de eliminar a maioria delas.
Após isso, reuniões entre representantes da nação relativas ao concílio. São colocados argumentos contrários à proposta entre nações. Rebatidos. Não adianta se opor? Adianta? Não é achado consenso. Tudo vira um grande comício de representantes de posições diversas. Tudo de uma forma simples e direta. Os atores ocupam papéis variados. Passa-se por diversas outras situações. Seja de artista querendo vender sua arte. Seja de defensor do mercado da arte - zangado. Há momentos em que artistas defendem seus direitos, tendo sido roubados por determinado amigo ou colega. Um degrau da burocracia responde, tudo no legalês, mostrando a arbitrariedades das situações. Tudo de forma leve.
Deixo-me levar pela encenação. Muito não compreendo e gostaria de ver novamente. Muito me toca na razão e não cai na emoção. Muito fica a ser costurado. Mas tudo com humor sem igual. Graciosas demonstrações de erudição textual sem recair em bobajadas de indústria cultural e por aí vai.
Num determinado momento, artistas são pagos para dizerem um diálogo, em que um defende a posição de um representante que deve escolher sua quinta obra e o outro tenta convencê-lo a não escolher obra de seus pais, opositores do então governo vigente. O diálogo é áspero. Os artistas são pagos - de verdade - e vão embora. A arte passa a ser paga. Na nossa frente.
Termina a obra, o músico que fez trilha faz um bolão para ver quem paga mais pelas músicas compostas na hora. Há um leilão e alguém ganha. Ele diz depois, zoando, que as músicas estão todas na internet. Gozação. Uma sacada interessante. Hoje, o que é arte, afinal? Como valorizá-la, nesta época em que pode-se achar tudo a todo momento e, pior, de graça?
Talvez vá ver de novo.
Comentários
não é gozação, a trilha está disponível no site navitrola.com.br
http://navitrola.com.br/#!/conciliodadestruicao
Cia. LCT