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o som ao redor (dir. kléber mendonça filho)

fazia muito tempo que não via cinema nacional.


neste caso, fui meio que levado pelos jornais. resenhas aqui e acolá. fiquei curioso. em especial pelo apelo antropológico. sei lá, alguém por aí disse que ele explica algo do brasil. não tenho muito saco para leituras do tipo freyre, prado, buarque, etc. embora goste, lá no fundo goste.

tudo funciona como um mosaico que a gente vai montando aos poucos.

uma cena familiar. uma sequência focada em um personagem em particular. ou em alguns.

é um bairro de recife. lá, uma rua é ou foi propriedade de um antigo senhor de engenho. aparecem um sujeitos oferecendo segurança. um uno é arrombado. um rapaz vai tirar satisfação do primo. um cara de rua risca o audi de uma mulher meio arrogante, por causa mesmo disto. uma reunião de condomínio. uma visita ao engenho. uma festa. e a história avança. preferível dizer só isto para dar uma amostra do tema da bagaça.

a trama avança lenta mas não irrita. tudo aparece com um tempo natural, próximo ao real. não há cortes abruptos. a gente quase se sente na casa dos personagens. que como que abandonam sua aura de personagens. parecem reais. serão reais?

o final, claro, surpreende. por isso não conto mais. mas é um clímax interessante, interiorizado, tensionado nos olhares de quem aparece. tendo a achar que o olhar é até mais importante que o som do título.

mas tudo bem.

é divertimento, mas não deixa de ser sério. os colegas de cinema parecem meio chocados, sinto. alguns saem com lentidão.

é legal. não é cinemão, sabem, mas é bom, decente e até surpreendente.

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