Fui convidado pelo Cássio a assistir a peça por motivos estranhos a ela. Deu-se no Sesc Pinheiros. Baseada no original de Tolstói, Sona a Kreutzer narra, em poucas palavras, o assassinato da própria esposa pelo protagonista, sem contudo se restringir a ele: narra-se o início, interlúdio e epílogo de casamento aparentemente feliz mas intima e inevitavelmente condenado ao fracasso.
Vemos a trama sendo narrada em primeira pessoa, mas por dois atores, sob o formato de uma sonata - a sonata do título é de Beethoven. O tom da narrativa é tal qual o de um diário ou da reconstrução de um crime. O protagonista, do qual não sabemos o nome, explica primeiro como é que ele narra suas relações com a instituição casamento, sempre contudo cético em relação ao sexo oposto. Mostra então como ele entrou, por que, e como se deixou enlevar pela sociedade rumo à tragédia anunciada. Um casamento feliz com 5 rebentos? Como assim? Percebemos a artificialidade do gesto, o papel da sociedade em conduzir a tragédia passo a passo, a gradativa posição mútua de desconfiança, raiva, indiferença e ódio.
Tudo passa se conduzir ao assassinato quando aparece um violinista de talento que passa a se relacionar com a esposa de forma inaceitável para o marido, o protagonista, dominado por um ciúme difícil de aquilatar, dado seu ódio gradativo pela esposa que apesar de tudo, da raiva excessiva mas contida, tanto almeja. Tudo é um sentimento de posse aceito pela sociedade mas que ele nota ser fraco dada a vontade dessa que deveria a ele se sujeitar. Com idas e vindas e encenação de discussões, o assassinato ocorre tal qual o da velha por Raskolnikov, de Crime e Castigo. A mão que efetua a morte por meio de punhal conduz-se como que por vontade própria. Não é preciso que ela apareça. A tal ponto as condições da tragédia aparecem que o corpo assassinado mostrar-se-ia quase excessivo se realmente aparecesse.
A sociedade absolve o marido. E ele pede desculpas. A quem?
Por diversos momentos, os atores chegam a hesitar em seus textos, o que revela a encenação de forma infeliz, mas no geral conseguimos facilmente ser conduzidos pela trama. A direção de Airoldi é certeira e leve. O que na mão de outros poderia dar uma encenação burocrática aqui nos conduz de leve sem sentirmos o tempo passar. O texto do Cássio, como ele mesmo diz, segue ipsis litteris o texto de Tolstói e deixa claro o anacronismo da trama. Me divirto.
Vemos a trama sendo narrada em primeira pessoa, mas por dois atores, sob o formato de uma sonata - a sonata do título é de Beethoven. O tom da narrativa é tal qual o de um diário ou da reconstrução de um crime. O protagonista, do qual não sabemos o nome, explica primeiro como é que ele narra suas relações com a instituição casamento, sempre contudo cético em relação ao sexo oposto. Mostra então como ele entrou, por que, e como se deixou enlevar pela sociedade rumo à tragédia anunciada. Um casamento feliz com 5 rebentos? Como assim? Percebemos a artificialidade do gesto, o papel da sociedade em conduzir a tragédia passo a passo, a gradativa posição mútua de desconfiança, raiva, indiferença e ódio.
Tudo passa se conduzir ao assassinato quando aparece um violinista de talento que passa a se relacionar com a esposa de forma inaceitável para o marido, o protagonista, dominado por um ciúme difícil de aquilatar, dado seu ódio gradativo pela esposa que apesar de tudo, da raiva excessiva mas contida, tanto almeja. Tudo é um sentimento de posse aceito pela sociedade mas que ele nota ser fraco dada a vontade dessa que deveria a ele se sujeitar. Com idas e vindas e encenação de discussões, o assassinato ocorre tal qual o da velha por Raskolnikov, de Crime e Castigo. A mão que efetua a morte por meio de punhal conduz-se como que por vontade própria. Não é preciso que ela apareça. A tal ponto as condições da tragédia aparecem que o corpo assassinado mostrar-se-ia quase excessivo se realmente aparecesse.
A sociedade absolve o marido. E ele pede desculpas. A quem?
Por diversos momentos, os atores chegam a hesitar em seus textos, o que revela a encenação de forma infeliz, mas no geral conseguimos facilmente ser conduzidos pela trama. A direção de Airoldi é certeira e leve. O que na mão de outros poderia dar uma encenação burocrática aqui nos conduz de leve sem sentirmos o tempo passar. O texto do Cássio, como ele mesmo diz, segue ipsis litteris o texto de Tolstói e deixa claro o anacronismo da trama. Me divirto.
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