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Um lugar de Sarah ou qualquer coisa que a senhora quiser (concepção: Sônia Soares) (Teatro Viga, até este domingo, dia 16)

Bacon, o pintor, dizia que se conseguisse explicar suas telas com palavras não teria motivo algum para pintá-las. Da mesma forma, se fosse possível descrever a peça Um lugar de Sarah com palavras não seria necessário vê-la. Um lugar de Sarah conta com duas bailarinas (Sônia Soares e Tatiana Guimarães) que, sem palavras, narram com um lirismo incontido a visão de mundo da protagonista, a artista plástica Sarah. Narram usando cadeiras, mesas, camas, estrados, p... (quase digo) e... (esta não conto mesmo). Narram sugerindo/mostrando, contorcendo/dilacerando, batendo/comemorando, aproximando/afastando, vivendo/morrendo. Narram com pertencimento e dureza, comunhão e crueldade, cumplicidade e traição. Narram sem nada falar, tudo querendo dizer. Não todos entendem. Há quem se contenha na dúvida, como estranho no ninho. Mas ao fim nada diferente é o que resta, senão transcendência. As dúvidas ficam para trás, como pedras no meio do caminho. Pedras que no fim das contas não fazem assim tanta diferença. Seria vão dizer os destaques: eles ficam ou não ficam. Pois é sempre assim: eis que as imagens terminam povoando o imaginário do espectador - ou não. Neste caso, porém, difícil dizer o que não fica. A única deficiência sobeja do espetáculo é durar apenas quatro dias, até este domingo, dia 16. Mas é imperdível. Teatro Viga, 6a, sábado e domingo. 6a e sábado, às 21h. Domingo, às 19h. (Contrera)

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