Texto: Emprestado de histórias reais, envolvem fait divers (cabeça de cachorro e casal náufrago) e enredos em que a memória é o que mais se faz presente (o pracinha da feb e o vestido). A idéia da viagem do menino faz de Cabeça de cachorro o enredo que inicia e finaliza toda a encenação. O pracinha da feb arremete em drama, o vestido puxa mais para a comédia, e o casal náufrago radicaliza numa tragédia em clima noir. Ágil e repleto de pequenas sacadas que atráem a atenção da platéia e convidam à ironia, identificação e complacência, o texto exagera um pouco, contudo, em clichês, atribuindo aos personagens identificações mais chapadas do que eles mesmo têm.
Cenário: Centrado numa grande estrutura que preenche todo o fundo do palco, composta de portas, janelas, gavetas, etc., que escondem artefatos fundamentais a determinadas cenas, e dão a base a encenações extremamente empáticas (exemplo: a introdução ao jogo do milhão, em casal náufrago), o cenário da peça serve perfeitamente como artifício de união das diversas tramas, sem que ocorra, um minuto sequer, confusão quanto aquilo (história, momento da história) a que a cena se refere. Destaque às gavetas que encenam serviços e trocas comerciais (em o vestido) e ao uso de brinquedos (sob a forma de ônibus e táxis) em cabeça de cachorro e casal náufrago: soluções fáceis e eficientíssimas. Por sua parte, a encenação da guerra em o
pracinha da feb esbanja em realismo sem mau gosto. Algumas saídas cênicas (imagens projetadas no telão), se prometem, cumprem pouco, contudo. A chamada pesquisa musical deixa a desejar, reaproveitando música mais do que conhecida de Madredeus em momentos (abertura e encerramento) que mereceriam menor desleixo ou maior pesquisa, independente de gostos pessoais (ao que parece, o critério para a escolha da música em particular).
Atuações: Todos os atores parecem muito à vontade em seus papéis respectivos, em especial Antonio Edson (o menino João, em cabeça de cachorro), Arildo de Barros (seu Henrique) e Paulo André (Henrique em O pracinha da feb), Inês Peixoto (Maria em O Vestido) e Lydia del Picchia (Cinira em Casal Náufrago). Destaque em particular para Eduardo Moreira (Adauto em Casal Náufrago), que consegue transparecer como poucos o limbo em que personagens do tipo Chinaski (personagem autoreferente do escritor Bukowski) insistem em permanecer (com a ressalva de que Adauto parece acreditar em uma saída, o que os outros não buscam mais). Muito difícil de manter sem descambar no mau gosto, a força dos personagens de Casal Náufrago mereceriam um tratamento mais demorado em outra peça, em outra trama. As outras tramas bastam-se por si. No final, Antonio Edson (João) faz do físico e do talento as maiores armas para conduzir a trama a um desenlace realmente emocionante (o encontro com o mar).
Direção: Paulo de Moraes é diretor convidado pelo grupo, cumprindo sua tarefa discretamente, sem deixar a peteca cair, dando margem a um trabalho consistente dos atores e da produção, num espetáculo relativamente longo e muito complexo em movimentação.
Cenário: Centrado numa grande estrutura que preenche todo o fundo do palco, composta de portas, janelas, gavetas, etc., que escondem artefatos fundamentais a determinadas cenas, e dão a base a encenações extremamente empáticas (exemplo: a introdução ao jogo do milhão, em casal náufrago), o cenário da peça serve perfeitamente como artifício de união das diversas tramas, sem que ocorra, um minuto sequer, confusão quanto aquilo (história, momento da história) a que a cena se refere. Destaque às gavetas que encenam serviços e trocas comerciais (em o vestido) e ao uso de brinquedos (sob a forma de ônibus e táxis) em cabeça de cachorro e casal náufrago: soluções fáceis e eficientíssimas. Por sua parte, a encenação da guerra em o
pracinha da feb esbanja em realismo sem mau gosto. Algumas saídas cênicas (imagens projetadas no telão), se prometem, cumprem pouco, contudo. A chamada pesquisa musical deixa a desejar, reaproveitando música mais do que conhecida de Madredeus em momentos (abertura e encerramento) que mereceriam menor desleixo ou maior pesquisa, independente de gostos pessoais (ao que parece, o critério para a escolha da música em particular).
Atuações: Todos os atores parecem muito à vontade em seus papéis respectivos, em especial Antonio Edson (o menino João, em cabeça de cachorro), Arildo de Barros (seu Henrique) e Paulo André (Henrique em O pracinha da feb), Inês Peixoto (Maria em O Vestido) e Lydia del Picchia (Cinira em Casal Náufrago). Destaque em particular para Eduardo Moreira (Adauto em Casal Náufrago), que consegue transparecer como poucos o limbo em que personagens do tipo Chinaski (personagem autoreferente do escritor Bukowski) insistem em permanecer (com a ressalva de que Adauto parece acreditar em uma saída, o que os outros não buscam mais). Muito difícil de manter sem descambar no mau gosto, a força dos personagens de Casal Náufrago mereceriam um tratamento mais demorado em outra peça, em outra trama. As outras tramas bastam-se por si. No final, Antonio Edson (João) faz do físico e do talento as maiores armas para conduzir a trama a um desenlace realmente emocionante (o encontro com o mar).
Direção: Paulo de Moraes é diretor convidado pelo grupo, cumprindo sua tarefa discretamente, sem deixar a peteca cair, dando margem a um trabalho consistente dos atores e da produção, num espetáculo relativamente longo e muito complexo em movimentação.
PS: Não resisto a comentar a apresentação, mesmo transcorrido tanto tempo, por um motivo de maior permanência: discutir comigo mesmo até que ponto faz parte de meus objetivos embarcar em teatro dito "sério", profissional ou mesmo tradicional.
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