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Camino Real (Tennessee Williams, dir. Nelson Baskerville) (25 de agosto de 2007)

Texto: Ágil, repleto de referências artísticas e intelectuais, com picos melodramáticos patentes, provocações de ordem empática e política. Atualíssimo no tema, um pouco datado nas referências, um pouco mais afastado no tom melodramático. Engraçado e triste às vezes, irresistível diversas vezes.
Cenário: Leve, com diversos recursos que promovem maior riqueza e agilidade. Telões que exibem imagens, escondem ações, revelam atuações; trilho central promove maior movimento; caixas, espelhos, plataformas; praticamente todas as instalações à vista servem para o espetáculo.
Atuações: Elenco muito menor (10 atores) do que aparece, pela agilidade imprimida ao texto. Diversidade que ó às vezes confunde um pouco. Atuações com ênfases muito variadas. Anna Cecília Junqueira privilegiando o essencialmente corporal. Walter Portela e Adilson Azevedo com maior ênfase às empostações de fala. Fernando Fecchio num papel histriônico, bem trabalhado. Duas ou três vezes, chamam à participação do público, exemplificando o emudecimento-inação políticos (tese da peça?). Camila Raffanti num meio termo, dominando a dramaticidade do papel de Lord Byron. Não posso comentar o trabalho de Damásio Marques, Felipe Schermann, Flávia Lorenzi e Luciana Azevedo, pois não sei quem é quem. As atuações aparecem niveladas, o que ajuda a conduzir as atenções numa peça muitíssimo movimentada (longa, em duas partes,
com intervalos).
Direção: Segura, precisa, bem ensaiada. Pequenos erros num e noutro momento, nada que comprometa.

Comentário (o tema me atrai em especial): Williams fez com a peça a revisão do mito de Cervantes pós-segunda guerra, prenunciando a Guerra Fria. Dom Quixote está só (sem Sancho) e dorme. A peça é o desenrolar do sonho de Quixote. Tema atualíssimo, muitíssimo adequado para quem quer repensar a anomia política reinante. Os referenciais artísticos (explicados no saguão do Tucarena) delimitam o momento, mas não se restringem a ele, por serem ainda válidos. Empréstimos à história recente (Che, por exemplo) ajudam a avançar na história sem contudo chegar ao momento atual. A presença de Casanova, de Marguerite (algo a ver com Celan?), não levam a peça à incompreensão. O que poderia ser apenas de âmbito pessoal dos
personagens assume caráter realmente amplo, assim como todas as cenas referidas ao uso da violência, do sarcasmo, da humilhação (econômica ou de poder), etc. A primeira parte da peça transcorre melhor que a segunda. O uso de Madonna deixa a desejar. Algumas sobreposições de atuações (dialogações) perdem um pouco a depender da posição do espectador. Longa e complexa, a peça prende a atenção, mas pode deixar algumas lacunas aos desavisados. Por mim, animou-me muito e gostei.

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