Lembro-me que a The
Economist disse, há alguns anos, que a sociedade ocidental teria começado com a
encenação, pela primeira vez, de uma peça do Ésquilo. Não me lembro onde foi
que li, mas li.
Existem realmente
atividades artísticas que ainda reacendem o debate quanto ao progresso, ao
contemporâneo, e dessa forma também à volta às origens. O teatro é sem dúvida
uma delas.
É realmente um
problema quando os parâmetros permanentes - alguns dirão antiquados - de
atividades como o teatro são defrontados com a nova realidade fornecida por
outros meios - eletrônicos - de expressão e também com novas realidades
informacionais. É nesse momento que surgem os defensores da tradição, indicando
que o teatro é insubstituível por essa ou aquela razão, e que permite tal e
qual liberdade que nos outros meios é impossível.
Realmente. É possível
fazer teatro - sem com isso inovar nem um pouco - com atores sem experiência,
com um palco apenas, com iluminação natural e com adereços simples. Não há uma
arte que possa tanto com tão pouco.
Esse afã
"antiquado", alguns diriam, domina este livro do Eugenio Barba,
diretor, ator e encenador do Odin Teatret, de Oslo, Noruega. Este livro não é
um manual, nem um repositório de textos fundamentais para entender o teatro
dessa companhia (muito embora esses textos também estejam aqui); o livro é mais
um apanhado de documentos - cartas, declarações de princípio, textos
informativos - que documentam o teatro defendido por essa companhia. Para quem
não conhece a história de Barba, cumpre dizer que ele não tem formação no campo
(foi soldador e marinheiro na juventude), só se direcionando ao teatro após
frequentar cursos sobre literatura e religião e ao ganhar uma bolsa de direção
na Polônia. Nessa época, Grotowski começava seu trabalho de uma vida e Barba
chegou para unir-se ao mestre - Barba foi extremamente importante para a
divulgação do teatro do polonês nos seus primórdios. Mas Barba saiu em 1964 e
montou o Odin na Noruega.
No Odin, Barba
explica ter enfrentado muitas privações. Com o grupo e sem participantes do
grupo. Hoje, o grupo é conhecido mundialmente (tem uma amiga que agora faz uma
oficina por lá), mas naquela época insistir no teatro - sem necessariamente
insistir num formato específico de teatro nem num repertório formado - era
quase uma impossibilidade.
Não conheço o
trabalho do Odin em profundidade, por isso seria inconveniente me meter a dizer
que este livro traça suas principais crenças e atividades. Ficamos, sim,
sabendo das peças que encena, conhecemos por ler suas cartas os envolvidos no
grupo e nas relações com o diretor, percebemos certas opções de vida inerentes
à postura de quem adotou o método de vivência do grupo, percebemos muitas
coisas. Mas percebemos ainda mais isso que está patente no próprio título do
livro - a solidão, o ofício e a revolta. O Odin e Barba são resistentes. Como,
creio, é resistente todo aquele que teima em ainda acreditar nessa atividade
anacrônica que é o teatro.
Comentários