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Estilos de direção

Minha relativamente pequena experiência em teatro vem se dando, em especial, pelo aprendizado com diversos profissionais em termos de direção de peças como um todo e da direção de atores, em particular. É bem verdade que entrei no teatro vendo o Gerald conduzir seus atores, em 2006 e 2007, mas meu maior aprendizado se deu, muito especificamente, ao ser dirigido pelo Marião (Mário Bortolotto) e ao ver como o Cesar Ribeiro conduz seus atores em sua montagem de Esperando Godot.
Ontem, porém, assisti um ensaio de Recursos Humanos, dirigida pelo Marcos Gomes, que irá estrear no Teatro Cemitério no final de setembro ou começo de outubro, ao qual ajudarei na assessoria de imprensa, e isso me ajudou a refletir em direção de atores de maneira geral. Foi interessante ver atores e atrizes que não conhecia embarcando em texto que eu NÃO havia lido de antemão. Foi interessante em especial porque eu NÃO TINHA a MENOR IDEIA do que iria resultar disso tudo, e isso fez com que diversos aspectos de direção viessem à tona enquanto a peça tomava forma. O texto, cabe lembrar, é do próprio Marcos Gomes, que também dirige e que, neste ensaio, substituiu também um dos atores, que não pôde comparecer.
Nos meus esforços em meu pequeno grupo (ou pequenos grupos, como o Cesar me lembra) eu fico bastante preso a COMO o ator/atriz torna seu o texto que precisa encenar. É uma limitação minha: eu não consigo me sentir à vontade atribuindo o texto ao ator/atriz, assim, simplesmente. Eu preciso entender que o texto passa a ser tornado SEU pelo ator/atriz, e que nessa medida é necessário que haja algum motivo particular PESSOAL para que o ator/atriz o torne (ao texto) realidade no palco.
Mas essa é uma limitação MINHA, que tornei importante na medida em que VI atrizes minhas embarcarem em viagens pessoais, durante a cena, visando antes de mais nada tornar essa energia toda algo factível no palco. Começou com a Carola e aconteceu também com a Raquel Cantanho. Não pude deixar de reparar que essa forma de abordagem do texto e da direção é o que de fato me atrai no teatro - e que posteriormente, se Deus quiser, irá me atrair no cinema.
Mas com os outros não vejo geralmente nada disso. O Marião tem um jeito bem tranquilo de lidar com os atores. Faz a leitura, decifra o que vê a partir da peça, não revela nada, exige o texto decorado, mesmo com tropeços, faz as marcações da cena e posteriormente da luz e deixa o ator à vontade para primeiro fazer a cena e depois para se dedicar à interpretação. Já o Cesar é diferente. Ele decupa as propostas dos atores para a linguagem que ele esposa, decupa-os a ponto de negar qualquer realismo - que ele detesta -, daí vai indicando as marcações e propondo uma ou outra forma de interpretação a depender das propostas dos atores. Ele não se preocupa em nada que diga a psiquê do ator. Ele simplesmente - pode parecer simples, mas não é - faz com que as propostas do ator sejam incorporadas ou não ao personagem que ele vê a partir de parâmetros de linguagem que ele impõe - embora os atores possam concordar ou não com estas, claro. No caso, se não concordarem não têm por quê fazer a peça, claro.
Com o Marcos foi diferente. Ele, autor do texto, dá indicações de maior ou menor ênfase às falas de acordo com aquilo que ele próprio vê no próprio texto, sendo que as marcações já são dadas de antemão, sem muita discussão. Pouco pude aferir, contudo, do ensaio, dado ele ter sido apenas um e dado que a peça ainda está sendo montada - pedi para participar dos ensaios, e eles toparam. Muito interessante.

O que me pega é por que os diretores com que trabalho não apelam jamais à vida interior do ator/atriz. Eu não sei por que eles não dão atenção a isso, sendo o que mais me chama a atenção. Gostaria de saber por quê. Enquanto isso, vou vendo como outros lidam com os seus textos ou com textos dos outros, em busca de minha via particular. Existirá?

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