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Movimento, gesto, motion e ação (continuação)

Mas nada parece realmente definitivo nessa reflexão sobre o que seria realmente significativo, resultante de intenção (até que ponto esta é realmente fundamental fica a critério da psicologia de cada um). Pois em seguida Louppe opõe as extremidades (mãos, pés) às zonas proximais, que seriam as mais relevantes no trabalho de dança, olhado em seus traços maiores. Quais serão mais expressivas, relativas à questão do gesto: as extremidades, realmente, ou o corpo como um todo, incluindo as zonas proximais?
Reflito que no meu atual momento eu prefiro focar-me no rosto, e relembro minha insatisfação ao reparar no rosto dos dançarinos nesse tão incensado vídeo recente sobre Pina. Pois minha pequena experiência com teatro e minha profunda inexperiência com trabalhos de corpo fazem com que eu me retraia sempre que o corpo como um todo é olhado com respeito a algo a dizer, enquanto tenda a me focar realmente nos trejeitos sempre que me sinto à vontade para procurar uma verdade. Os movimentos de bailarinos à la Martha Graham (caralho, dos anos 30!) ou mesmo os mais recentes tendem a me causar um bocejo primordial por não conseguir entender a que ponto eles parecem querer chegar. Fico na beleza e inusitado do movimento, claro, mas tendo a me desfazer em raiva sempre que tento apreender algo de tanto.
Louppe nota como, na história da dança, houve uma tendência a "branquear" (o termo é dela) o papel das extremidades naquilo que de mais relevante se espera do movimento dançado. E, pelo fato de isso me irritar, tendo a desqualificar qualquer exagero das zonas proximais naquilo que, espero, possa vir a ser dito por um ou por outro nos palcos. Eu insisto, aqui comigo, em permanecer nesse chamado branqueamento "aguçando" meu olhar por algo que diga mais do ser que vejo à minha frente EM SUA LUTA com o papel que o define. Não busco - cá entendido - uma revelação NESSE QUE ENCARO; busco a prova da LUTA entre o ser que vejo e aquilo que lhe peço na cena - que, no caso de meu grupo, faço explicitamente a ele/a.

Seguem, no texto, para reflexão, diversas citações de dançarinos que fazem, cada qual de sua forma, uso especial das mãos e braços e pés e pernas, assim como simplesmente do tronco, para algo expressarem - se é que a intenção mesma é de expressar, o que pode não ser mais o objetivo, pura e simplesmente.

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