Vi a série da BBC e
associados pela primeira vez há alguns anos. De lá para cá, meu interesse pela
trama romana reviveu e assumiu contornos de especialidade. Tanto que agora me
motivo a ler os Anais de Tácito e outras obras fundamentais para entender esse
momento da história em que (quase) tudo estava sob um único imperador. Façanha
que, venhamos e convenhamos, nunca mais se repetiu, embora tenham existido
idiotas suficientemente teimosos para matar dezenas de milhões nessa vã
tentativa.
Mas agora reparo na
direção e em outros aspectos que antes para mim passavam batido, em parte
porque queria apenas usufruir do tempo perdido, em parte porque não me
interessava nesse algo mais - ao menos nesse tipo de produto - que poderia
advir de se preocupar com os detalhes em empreendimentos desse porte. Sei lá
quanto foi gasto na série, mas não deve ter sido pouco. Já os detalhes da
reconstituição é uma questão desde já para especialistas.
Assistindo muitos
bons filmes ultimamente, percebo que, em muitos casos, deve ocorrer aos
escritores/diretores/produtores certas "sacadas" que acabam sendo,
com o tempo e no fundo, bem percebidas como cessões ao gosto do espectador.
Nesse sentido, gostaria de notar algumas dessas "sacadas" no seriado
aqui acima. Vejam, não me importam as "sacadas" óbvias, essas que
sempre fazem sucesso, mas as "sacadas" mais escondidas, essas para
especialistas notarem. São "sacadas" tão bem boladas que não são
percebidas como tal na época em que são defendidas, mas deixam sua pegada e
passam por óbvias alguns anos após a estreia dessas séries. Séries que não têm
essas "sacadas" são, é claro, aquelas que ficam.
Comecei a me dar
conta do apelo a essas "sacadas" quando via Manhattan, do Woody
Allen. Longe de questionar o bom gosto do baixinho, notei como - incrivelmente
- as músicas não me levavam tão longe quanto antes. Aí consultei o livro com as
discussões sobre achar "a" música - aquele livro já citado com
entrevistas. Parecia como se ele, o baixinho, consultasse uma baciada de
musiquinhas - essas clássicas - tentando encaixar uma coisa na outra, a imagem
com a música. Nada demais, mas há quem veja nisso um gênio - não há nada disso,
claro. Diferente é experimentar com algo que não existe. Isso, sim, é mais
complicado, e requer um conhecimento que nada tem de livresco, entretanto.
No caso de Roma, que
assisto aos picadinhos, fico constrangido com o apelo pouco incômodo ao sexo,
às cenas de nus, a algo das cenas de violência, enquanto reparo - usando o controle
remoto - como é possível VER o erro, VER o momento em que se nota a falsidade
da cena - no caso, um pênis que ESCAPA enquanto deveríamos ver uma espécie de
estupro. Claro, esse foi apenas um deslize. Mas não é deslize reparar em como a
câmera FLUTUA de vez em quando em imagens que deveriam causar alguma impressão
- e não causam. A sujeira que deveríamos ver na Roma antiga, por sua vez, não
contamina o rosto bem barbeado do gladiador bêbado e mulherengo. E os embates
retóricos entre Pompeu e César parecem algo de livresco, também, sem ser
dispensado algum, digo ALGUM, cuidado ao jeito de falar - pois todos sabemos
que o latim falado na corte romana era diferente do latim falado pelos ignaros,
e isso não aparece, isso não distancia esses que estão mais do que distanciados
- as classes, que por sua vez parecem estanques, sem algo que as una - e havia
esse algo, e não era simplesmente saque ou interesse. Mas claro, estou sendo
chato, bem chato. Fazer o quê se me pego discorrendo sobre o que consigo pesquisar?
Continuarei
posteriormente.
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