De uns tempos para
cá, assoberbado de leituras sobre e de teatro, assim como de reflexões sobre
teatro que vejo aqui e acolá, venho sentindo um certo assombro com autores que
se propõem, FINALMENTE, dizer A QUE REALMENTE vem o teatro.
Assombro porque
quanto mais o tempo passa mais percebo que esses autores não me causam grande
impressão pelo simples fato de que sinto cada vez mais que PRECISO ver o teatro
do MEU modo. A liberdade está aqui para isso, não é mesmo? Claro, sempre temos
o que aprender, mas com o tempo nos acostumamos, não é mesmo, a perceber que
certas coisas realmente nos causam impressão, ao passo que outras, venhamos e
convenhamos, não nos acrescentam em muita coisa ao que já sabemos ou vemos da
vida. Digo isso de forma, digamos, categórica: o que me acrescenta, acrescenta;
o que não acrescenta, não acrescenta. E digo: em minha concepção de vida. Pois,
quanto mais passa o tempo, mais reparo que essas discussões sobre Teatro me
causam certo engulho. Preciso salientar, claro, que tenho já 47 anos. Não creio
que nada agora possa mudar drasticamente na forma como vejo a vida. Embora faça
esforço para que isso por outro lado ocorra.
Mas voltando ao
teatro. Mamet, um dos dramaturgos mais incensados pelos cultuadores do
"americano" (para mim, norte-americano), neste livro resolve,
finalmente, dirá ele, colocar os pontos nos iis. Ou seja, dizer FINALMENTE
aquilo que realmente importa - para ele -, desconsiderando FINALMENTE aquilo que
lhe dizem os outros, ou as modas, ou os colegas, ou os jovens sedentos de
novidades. O Lucas Mayor diz ter lido este livro em inglês. Eu só vim saber
dele mesmo agora, em português, recém-lançado pela Civilização Brasileira.
O norte-americano
causa alguma surpresa, já no começo, quando diz que, nos seus primórdios na
profissão, fora obrigado a ler mais de 50 catataus com o mais importante em
leituras sobre teatro ANTES da primeira aula. Isso porque eu DUVIDO que alguém
aqui CONSIGA ir na mesma direção - até porque algumas das leituras que ele cita
não existem aqui - em português, espanhol ou qualquer outra língua -
Vakhtangov, por exemplo. Outro aspecto que me causou alguma impressão foi o
fato de ele dizer que teatro, lá em Nova Iorque, é APENAS a Broadway. O Mamet
desconsidera a tão propalada off-Broadway dizendo que quem a assiste é só
turista mesmo. Claro que há mais sutileza nisso que ele diz, mas deixa para lá
- este texto é para você comprar o livro, caralho. Outro aspecto interessante,
que aqui pode causar alguma impressão, é ele elencar uma das causas do fim dos
pequenos teatros - a especulação imobiliária no centro de NY. Interessante
porque aqui vem ocorrendo a mesma coisa - com repercussões variadas e
tentativas de luta. Interessante tudo isso.
Não vou me meter -
ainda - a polemizar a respeito. Espero que este texto tenha servido QUE SEJA
APENAS para que vocês procurem o livro nas estantes das livrarias e o folheiem
nesses e noutros aspectos. Já terá valido algo a pena.
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