A estreia da nova
banda do Marião, A Carne é Fraca, e a (minha) retomada das resenhas sobre peças
de teatro levaram-me a sair de onde me escondo para encarar o que eu nem sabia
o que era. Mas acabei me direcionando a local mais próximo e embarquei, sem
saber que era lançamento, no filme desses brasileiros, ambientado em MG. O que
me atraiu em especial foi a foto do cartaz, e não nego que ao saber que era um
filme brasileiro - apesar das ótimas surpresas nos últimos anos - eu meio que
refleti, será? Ocorre que havia uns blockbusters outros no mesmo Itaú Augusta,
com diretores badalados.
Esqueci, tomei meu
café, cogitei um livro e entrei. Fiquei bem no centro do cinema - quase ao lado
de umas mal-educadas que nem vale a pena a perda de tempo.
Ocorre que o filme
dos caras pegou minha atenção.
É difícil explicar
por quê. Eu queria - ou achava que queria -, na ocasião, ver um filme que me
motivasse uma reflexão, mas a simplicidade da trama dos caras me cativou. Mas,
mais importante, a forma pela qual os caras conduziram os atores. O ator
principal, um cara comum, lá pelos 40 e poucos, não chama definitivamente a
atenção. Um homem de meia idade, nem bonito nem feio, pouco atlético, com um
olhar vago, morando numa quitchenete super mal-mobiliada, no centro da cidade,
que mal consegue nutrir a própria geladeira de comida, com um copo de vidro,
com coisas espalhadas pela sala do lugar, que dorme no sofá, que parece não ter
qualquer amigo, que nem fala direito, se fala. Ocorre que ele trabalha com uma
menina, bem bonita por sinal, e almoça com ela, sendo que ela arrumou um
casamento com um cara que conheceu num site de relacionamentos. Eles
praticamente não conversam, e ela o convida para ser seu padrinho de casamento.
Ele reluta, mas aceita, brincando com a ideia de ser padrinho. A trama assim
vai, com o Jean-Claude Bernardet fazendo uma ponta sintomática como o pai da
garota, e nada demais acontece. Ao final, ela aparece desolada - após o
casamento -, e ele - não me lembro! - continua sozinho.
Claro, a solidão é o
mote, mas não uma desculpa. A gente SENTE a história dos personagens nos closes
ilimitados que os diretores fazem deles, nos olhares que vão e vêm, nas
desolações presentes naquilo que NÃO EXISTE, em histórias que parecem fadadas a
não existirem. Esses closes é que me pegaram a atenção, pois são o SÍMILE exato
daquilo que busco no grupo de teatro que tenho. Quero os closes, quero as
histórias nos detalhes dos rostos, e isso é algo que eles, os diretores,
conseguem de forma magistral.
Um detalhe importante
diz também respeito à EMPATIA criada pelos personagens do filme nos
espectadores, que riram diversas vezes durante a fita, quase sempre no que se
referia à POBREZA patética da história dos dois, dos protagonistas. Pobreza
íntima, digo, não pobreza de fato. Há algum tempo que eu não via tamanha
identificação da plateia com o que acontecia na tela.
Saí bem leve e
contente, apesar da POBREZA rica da fita - e encontrei o Allan e a Ana à saída
com colega (deles) que me reconheceu de apresentação-performance no ano
passado. Conversamos e - Jung explica - tudo fez sentido. Não sobre o filme,
sobre o futuro, o presente e o futuro.
A vida é bela.
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