O que você está olhando - Teatro (1913-1920), de Gertrude Stein (org. e trad. Dirce Waltrick do Amarante e Luci Collin) (Iluminuras)
Descobri o livro da
Gertrude Stein primeiro na livraria e depois na web - em que pode ser adquirido
de graça. Mas, como quase todo desavisado, acabei sendo defrontado face um
esforço inglório de tradução para tentar entender aquilo que, à primeira vista,
poderia nem ter entendimento. Daí que parei. Sabia que a G. Stein havia escrito
peças no mínimo incomuns, no começo do século XX, e que deveria ser um esforço
hercúleo esse de tentar traduzi-las e posteriormente entendê-las.
Foi quando descobri
que a Iluminuras havia lançado uma versão do livro com um título no mínimo
desconcertante. O livro original intitula-se Geography and plays, ou seja,
Geografia e peças, enquanto sua tradução chama-se O que você está olhando. Não tenho realmente a menor ideia do que fez
as organizadoras e tradutoras optarem por tal denominação - cabe isso algo a
ser refletido e questionado.
Gertrude Stein, para
quem não sabe, foi uma escritora modernista norte-americana que desenvolveu um
trabalho sui generis meio que a contramão das tendências dominantes à época.
Edmund Wilson, em seu O Castelo de Axel, dedica um pequeno ensaio ao seu
trabalho, e por meio deles sabemos o quanto ela foi incompreendida na sua época
e o quanto penou para conseguir um lugar ao sol das letras norte-americanas.
Não que ela se preocupasse com isso: Wilson diz que reconhecimento era algo que
passava ao largo de seu trabalho. Já a compreensão é algo pelo que, ao que
parece, todos ansiamos - e é nisso que Gertrude Stein ficou também a ver
navios. É realmente difícil entender o que se passava por aquela mente - e que
ficou impresso nesses trabalhos, alguns dos quais, literalmente, são peças para
serem encenadas.
Em que consistem
essas peças? Não existe uma resposta única para essa pergunta. Às vezes, essas
peças são frases colocadas umas abaixo das outras, sem indicação de personagens.
Outras vezes são frases, colocadas umas abaixo das outras, em formatação
similar à dos concretistas, COM indicação de personagens - mas indicação
passível de dúvidas - às vezes meros nomes jogados no meio do texto. Outras
vezes, as indicações são explícitas. Outras vezes, atos inteiros consistem em
poucas ou mesmo uma frase. Cenas, atos, se seguem sem haver uma explicação
única para eles: se bem que avaliando um a um os textos pode-se chegar a
algumas conclusões parciais sobre cada um deles.
Recentemente (última
sexta), duas atrizes e eu trabalhamos com duas dessas peças. Uma delas para
vozes de mulheres, outra, um diálogo, entre (aparentemente) um homem e uma
mulher. Aferimos certas possibilidades em ambos os casos, e o segundo deles foi
o mais exitoso. Descobrimos - elas, lendo o texto, eu, de certa forma dirigindo
- que havia uma similaridade entre eles: um certo tom jocoso, de certa ironia
ou mesmo de graciosidade. Foi interessante. Já contatei uma das tradutoras para
colocá-la a par do que estamos desenvolvendo. Espero que lhe agrade a
iniciativa e nos deixe apresentar alguns desses textos ou peças no espaço que
já temos. Espero.
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