Pular para o conteúdo principal

Sobre ver N vezes a peça Mulheres, do Buk, pelo Marião

estou dividido, preciso confessar.


fui ver 5 vezes a peça mulheres, no teatro cemitério de automóveis.

isso chega a ser um acinte, dada a disputa que se dá por ingressos para vê-la.

quando fui ver a 4a vez, um colega apareceu tarde e lamentou que não iria poder vê-la. fiquei assim meio dividido. dar o ingresso a ele ou não? não dei, vi e não me arrependi.

ontem aconteceu a mesma coisa, com uma conhecida. eu disse que iria pegar muito mal se eu repassasse. é como se eu virasse cambista.

o próprio marião, ao me ver na fila, comentou, pô, contrera, vc é um filho da puta, deixa outros verem, porra. claro, ele disse sério, mas também ele disse meio brincando. mas o fato é que eu acabo causando um certo preju.

acontece que eu não consigo.

explico.

dias atrás, fui ver duas outras peças. uma da lulu, outra do grupo tapa.

saí da primeira bem, mas ao mesmo tempo cansado. o tema, o tratamento, as atuações, me cansaram. saí acabado.

da segunda não saí bem. sei lá, algo comigo. não é com a peça, que parece ser bem conduzida.

já ontem ao assistir a 5a vez saí enlevado por uma sensação indescritível de satisfação. novamente. mas também saí acabrunhado. entendo que eu acabo deixando alguém de fora. ou seja, causando um certo preju.

não sei mais o que fazer.

não consigo viver sem o teatro, mas não todo teatro realmente me agrada.

tem muita coisa boa por aí, é certo. mas o que fazer, se eu só me deixo levar por algumas coisas, sendo que as outras não me animam tanto? desistir?

estou escrevendo minha primeira peça longa.

quando dá tempo, eu me meto a criá-la. ando empacando, mas isso é natural.

não à toa os personagens têm um quê do marião, do grupo cemitério. é algo indescritível dar vida a personagens que passam a existir por conta própria. já tenho dois bem definidos. amo enxergá-los e atribuir-lhes vida.

estou para começar oficinas de teatro várias e os caminhos, que se bifurcam sem parar, me deixam perdido.

mas uma coisa sei: há algo de importantíssimo na peça mulheres de que realmente não abro mão.

mas farei um esforço não indo mais. só uma exceção: após ler o livro como um todo.

vai que dá tempo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

29/7 (a partir de 28) - Teatro e artes

Ontem, ao ouvir o Gerald, quanto a como coloca a musica (depois), e depois ainda, ao ver uma musica passando pela partitura (e me deixando uma impressao de impossibilidade de traducao em algo mais), percebi que a arte finalmente havia voltado a assumir um lugar inextrincavel em mim. Finalmente percebi novamente que ela existia em mim para algo alem da minha vida, e percebi tambem que qualquer motivacao extemporanea (tipo celebridade, valor em si, razao) para ela era, alem de inutil, irrelevante. Percebi isso e na hora me libertei de coisas ao meu redor imensas, que me faziam sentir amargurado por um peso muito grande. Como se eu DEVESSE atribuir algo aa minha vida por me sentir pequeno demais para tudo o que investi nela. Isso fez com que eu tambem entendesse que, quando QUALQUER COISA for bem feita, ja EE arte em si, e por isso mesmo entendi o valor da edicao no cinema, da atuacao, da luz e tudo mais. Tudo adquiriu de repente um valor maior, para alem da vida inclusive.