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vanguardas

tenho uma certa ojeriza a esse negócio de vanguardas.


a noção de vanguarda me remete àquelas priscas eras em que artistas, escritores e intelectuais se dirigiam ao mundo dizendo que a arte não poderia continuar como estava. que era preciso haver uma quebra. um novo rumo.

é simpático, isso. uma espécie de quebra de paradigmas.

ocorre que desde então todo mundo - excetuando os artistas mais comedidos - acaba sendo defrontado face o dilema: o que faz é vanguarda?

pergunto: é preciso ser vanguarda para estar à frente? pois a questão é bem essa, pelo que reparo: estar à frente. como, dizem os críticos, os artistas sempre visam estar.

não sei se é necessário estar à frente para fazer algo interessante na arte contemporânea.

remeto-me à pintura figurativa.

muitos consideravam-na morta.

aí veio bacon, naquela exposição com o tríptico daquelas figuras deshumanas, e retomou algo que os outros consideravam morto.

a vanguarda à época deveria estar investindo em campos novos, distantes do figurativismo ultrapassado. cadê ela, agora?

há toda a ênfase que os estudiosos dão à quebra de paradigmas.

eu aprecio toda essa discussão. realmente há muito o que admirar em todos aqueles que não se contentaram e ampliaram os limites da arte. os performáticos. oiticica. clark. sei lá, todo mundo, todos esses caras e essas caras que parecem ver o que passa batido. e que o transformam em arte.

mas até dizer que esse ou aquele, ou esses ou aqueles, são ou devem ser vanguardas, acho que vai uma distância.

o artista e todos os que o admiram deve obedecer aos critérios de sua própria arte. atribuir a qualquer um deles um qualificativo além é, a meu ver, deturpar um pouco o que se vê para vender que aquilo que se vê é diferente.

é uma forma de venda, em suma.

a arte não precisa disso.

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