Pular para o conteúdo principal

heat (fogo contra fogo)

bem sei que de lá para cá muito foi feito em termos de filmes de ação, mas mesmo assim considero esta fita uma das melhores ever.


perdi a conta de quantas vezes a vi e de quantas vezes decorei cenas em que não precisam aparecer necessariamente o de niro ou o al pacino.

é engraçado. este filme não seria o que é se não fossem as cenas paradas e de romance. pois é o que o filme é: um filme sobre amor e confiança.

a história é de uma gangue de ladrões da pesada que são perseguidos por um cara da homicídios que não deixa a dever a sua fama. de niro faz o chefe criminoso (neil), al pacino o policial.

como diz no making off a atriz que faz a eady, garota do neil, os personagens são nojentos.

a gente não consegue imaginar que o macneill realmente esteja amando ela. pois para ele a regra é apenas uma: quando o heat (calor) aparecer na esquina, é preciso se desvencilhar de tudo em 30 segundos. uma fuga permanente, em suma.

há uma coreografia que domina o tempo todo. tendo assistindo n vezes determinadas cenas, posso afirmar: nelas, não há 1 segundo a mais ou a menos. na primeira, do roubo ao carro forte, tudo é milimetricamente editado. naquela em que o grupo tenta matar waingro (na minha opinião, um personagem fascinante), a mesma coisa.

um diretor menor transformaria o filme, melhor ou pior filmado, numa história de gato e rato. mann faz diferente: ele coloca, entremeada à caçada, cenas com personagens principais ou secundários em que a relação é o principal. impossível não se tocar com o lamento da garota que apoiava em tudo o que podia o namorado, ex-con, e que soube pela tv que ele morreu, envolvido num assalto a banco. dá para sentir a agonia dela antes da revelação. sabemos que ela procura por ele, que sumiu, não está mais no emprego numa lanchonete.

mas há outras sacadas que fogem do, na minha opinião, tema principal. exemplifico duas vezes. primeira, quando van zant sabe, pela boca de neil, que é um homem morto. o vazio do seu olhar remete àquelas ocasiões em que sabemos que estamos fudidos. já passei várias vezes por isso. aquele olhar remete a tudo. outro exemplo é o olhar do parceiro de neil, enquanto dirige, sabendo que nunca mais irá ver a esposa - ela foi retida pela polícia. logo ele que via o sol se levantar e cair com ela. é tocante, posso garantir, logo eu que me separei há relativamente pouco tempo.

posso me enganar, mas creio que o diretor mann tenha se distanciado, nos últimos filmes, de abordagens desse tipo, mais psicológicas ou filosóficas. em miami vice ainda há algo a respeito. mas nos outros filmes dele, mais recentes, não há nada. ou não consigo distinguir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c