é curioso ver de que forma o trabalho do ator serve para aproximar-nos ou não do universo que ronda a peça que está à nossa frente.
comentarei quatro delas: mulheres, o concílio da destruição, a noite das tríbades e inferno na paisagem belga. todas eu já comentei brevemente.
é engraçado: tanto em mulheres como nas tríbades a opção pelo realismo tem resultados diferentes. em mulheres, parece haver um exagero e comedimento planejados por um e outro ator. o chinaski, por exemplo, é em geral comedido. são relativamente poucas suas explosões. tammie e lydia são exageradas. a gente fica a um passo de enxergarmos algo de exagerado nesse exagero. em quase todos os casos, ronda um realismo mínimo. já nas tríbades o realismo passa por um exagero que, por essa via, parece tentar dar mais cor em personas que foram reais. strindberg explode diversas vezes, algo que me causa um certo mal-estar por não conseguir enxergar no personagem algo mais profundo sobre as mazelas a que era sujeito. a ex-esposa dele, ao se opor a ele, acaba muitas vezes indo pela mesma linha, embora em certas ocasiões dê margem à profundidade da atuação comedida. o ator e a amante da ex-mulher têm menos presença. quem estabelece o tom, então, é strindberg mesmo, embora, seja como for, tenha me sentido isolado em minhas respostas àquilo que vi.
já o concílio e o inferno não vão pela via do realismo. no primeiro, os atores fazem as vezes de diversas personas que mais se assemelham a sujeitos cuja realidade mal se mostra a depender das situações. ora fazem papeis de juízes, ora de burocratas, ora de pessoas comuns, e o tom, ponderado ou não, afasta-nos do peso de criar profundidade nos personagens. o que resta é o que se fala, que é o que - parece - interessa, realmente. minha dificuldade esteve em que não compreendi muito do que ouvi. em o inferno, os atores cumprem papeis de cicerones, guiando o espectador numa exposição de abordagens sobre os poemas de rimbaud e verlaine, e seu relacionamento, em que a sutileza de se interpretar é colocada de lado. tudo é mais chapado, intencionalmente. não importa muito quem é que diz, nem como, importa o que se diz, simplesmente. em ambos os casos, no concílio e em o inferno, não caímos na malha do realismo.
fico sabendo, por meio de jornais antigos (não muito antigos), que lá fora o realismo parece morto e enterrado. aqui, lembro-me, aportou, por exemplo, uma companhia que em algum sesc mostrou uma releitura de shakespeare usando os atores e seus pais verdadeiros. dizem que esse experimento teve boa repercussão por lá. eu tenho minhas restrições a sacadas desse tipo, mas não vi e portanto não posso comentar. lembro-me contudo que ao ver uma longa peça de um belga de cujo nome não me recordo o realismo parecia também não existir. é como se o ator virasse apenas uma função, algo mais frio, distante da preocupação de expressar personalidades.
é estranho que, a depender da abordagem em termos de atuação, os resultados variem tanto. mas como é o ator mesmo o intermediário entre nós e a peça não poderia, claro, ser diferente. fico meio ressabiado contudo com essa desconfiança que parece existir no que de mais novo está sendo produzido com respeito ao realismo puro e simples. é como se o humano não mais atraísse o suficiente para ser destrinchado, como se os autores tivessem se cansado de tentar entender ou embarcar em entendimentos sobre o outro. claro que não sei aonde isso parece nos levar. se por um lado me sinto mal face a teatrão simplesmente, por outro não me atraem muito as elucubrações que preferem apostar em abordagens anti-realistas.
o que seria um teatro simplesmente bem feito? não sei.
comentarei quatro delas: mulheres, o concílio da destruição, a noite das tríbades e inferno na paisagem belga. todas eu já comentei brevemente.
é engraçado: tanto em mulheres como nas tríbades a opção pelo realismo tem resultados diferentes. em mulheres, parece haver um exagero e comedimento planejados por um e outro ator. o chinaski, por exemplo, é em geral comedido. são relativamente poucas suas explosões. tammie e lydia são exageradas. a gente fica a um passo de enxergarmos algo de exagerado nesse exagero. em quase todos os casos, ronda um realismo mínimo. já nas tríbades o realismo passa por um exagero que, por essa via, parece tentar dar mais cor em personas que foram reais. strindberg explode diversas vezes, algo que me causa um certo mal-estar por não conseguir enxergar no personagem algo mais profundo sobre as mazelas a que era sujeito. a ex-esposa dele, ao se opor a ele, acaba muitas vezes indo pela mesma linha, embora em certas ocasiões dê margem à profundidade da atuação comedida. o ator e a amante da ex-mulher têm menos presença. quem estabelece o tom, então, é strindberg mesmo, embora, seja como for, tenha me sentido isolado em minhas respostas àquilo que vi.
já o concílio e o inferno não vão pela via do realismo. no primeiro, os atores fazem as vezes de diversas personas que mais se assemelham a sujeitos cuja realidade mal se mostra a depender das situações. ora fazem papeis de juízes, ora de burocratas, ora de pessoas comuns, e o tom, ponderado ou não, afasta-nos do peso de criar profundidade nos personagens. o que resta é o que se fala, que é o que - parece - interessa, realmente. minha dificuldade esteve em que não compreendi muito do que ouvi. em o inferno, os atores cumprem papeis de cicerones, guiando o espectador numa exposição de abordagens sobre os poemas de rimbaud e verlaine, e seu relacionamento, em que a sutileza de se interpretar é colocada de lado. tudo é mais chapado, intencionalmente. não importa muito quem é que diz, nem como, importa o que se diz, simplesmente. em ambos os casos, no concílio e em o inferno, não caímos na malha do realismo.
fico sabendo, por meio de jornais antigos (não muito antigos), que lá fora o realismo parece morto e enterrado. aqui, lembro-me, aportou, por exemplo, uma companhia que em algum sesc mostrou uma releitura de shakespeare usando os atores e seus pais verdadeiros. dizem que esse experimento teve boa repercussão por lá. eu tenho minhas restrições a sacadas desse tipo, mas não vi e portanto não posso comentar. lembro-me contudo que ao ver uma longa peça de um belga de cujo nome não me recordo o realismo parecia também não existir. é como se o ator virasse apenas uma função, algo mais frio, distante da preocupação de expressar personalidades.
é estranho que, a depender da abordagem em termos de atuação, os resultados variem tanto. mas como é o ator mesmo o intermediário entre nós e a peça não poderia, claro, ser diferente. fico meio ressabiado contudo com essa desconfiança que parece existir no que de mais novo está sendo produzido com respeito ao realismo puro e simples. é como se o humano não mais atraísse o suficiente para ser destrinchado, como se os autores tivessem se cansado de tentar entender ou embarcar em entendimentos sobre o outro. claro que não sei aonde isso parece nos levar. se por um lado me sinto mal face a teatrão simplesmente, por outro não me atraem muito as elucubrações que preferem apostar em abordagens anti-realistas.
o que seria um teatro simplesmente bem feito? não sei.
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