sei que estou meio atrasado neste debate, mas mesmo assim gostaria de discorrer algumas poucas linhas a respeito.
eu me lembro quando começaram os debates sobre cotas.
lembro-me de que a princípio eu fui contra elas.
participei de um debate na faculdade de educação da usp em que muitos colocaram suas posições. uma senhora, professora, ficou espantada com a virulência de meus ataques e veio conversar comigo. a conversa foi civilizada mas não arredei pé. a única coisa que me convenceu foi uma professora negra afirmar que, no caso dela, seus pais eram empregada e motorista. ela disse, não deixemos que isso continue acontecendo. eu achei legal. era um convencimento pela via da razoabilidade e até pela emoção. cheguei a ponderar a respeito.
o tempo avançou e eu fui ficando para trás na bagaça.
toda a teorização a respeito das cotas deve, se não me engano, à teoria da justiça de john rawls. as discussões a respeito dominaram os estados unidos nas décadas de 70 e 80. aqui chegaram mais tarde. houve um convencimento geral, entre os entendidos, de que elas eram devidas.
esse convencimento consistiu, para todos, numa nova fase em políticas estatais até então dominadas pelos argumentos utilitaristas de bentham, mill e outros. quem sabe, sabe que muito foi discutido antes de chegar-se a tamanhas conclusões e repercussões de ordem prática.
hoje a tendência das cotas domina o cenário e vemos aqui e ali cada vez mais instituições a adotá-la. os jornais repercutem um pouco, mas é apenas espuma de onda do mar. serve apenas para criar um contraponto e fazer de conta de que as opiniões alheias e contrárias interessam às políticas das instituições. em linhas gerais, apenas as arranham.
é isso o que eu acho mais estranho em tudo. não importa quem se oponha nem com quais argumentos. a batalha está ganha e cada vez mais instituições adotam cotas para minorias ou clivagens sociais prejudicadas pela história. os outros ficam pelo caminho.
pelo que sei, a razoabilidade assumida leva a crer que realmente as cotas são necessárias. eu sou a favor delas, independente de suas contradições e efeitos aparentemente deletérios. entendo que as instituições e suas políticas sempre prejudicaram as populações relativas a essas clivagens, e que uma compensação é relativamente devida.
mas me pergunto: e quanto a iniciativas que não fazem uso das compensações relativas a essas compensações? ou seja, e quanto a projetos de valor que não façam uso das políticas de cotas? eles são simplesmente jogados para trás? pois é isso o que acontece e que vai acontecer cada vez mais. vejo também que gente que aparentemente não deveria reclamar nada - gente que é branca, por exemplo, mas que se autoqualifica como negra - aproveita a oportunidade para, muito cinicamente, dizer que faz parte dos que sofreram esse tempo todo. vejo gente assim aparecendo em todo santo lugar. uns ridículos.
enquanto isso, a aparência de democracia dá um verniz civilizado a essa tomada de poder. pois é isso que tudo isso é: uma tomada de poder. pacífica, escorada em argumentos filosóficos, mas radical.
os outros ficam chupando o dedo, em última instância. como antes acontecia com quem agora tem o poder da palavra.
eu me lembro quando começaram os debates sobre cotas.
lembro-me de que a princípio eu fui contra elas.
participei de um debate na faculdade de educação da usp em que muitos colocaram suas posições. uma senhora, professora, ficou espantada com a virulência de meus ataques e veio conversar comigo. a conversa foi civilizada mas não arredei pé. a única coisa que me convenceu foi uma professora negra afirmar que, no caso dela, seus pais eram empregada e motorista. ela disse, não deixemos que isso continue acontecendo. eu achei legal. era um convencimento pela via da razoabilidade e até pela emoção. cheguei a ponderar a respeito.
o tempo avançou e eu fui ficando para trás na bagaça.
toda a teorização a respeito das cotas deve, se não me engano, à teoria da justiça de john rawls. as discussões a respeito dominaram os estados unidos nas décadas de 70 e 80. aqui chegaram mais tarde. houve um convencimento geral, entre os entendidos, de que elas eram devidas.
esse convencimento consistiu, para todos, numa nova fase em políticas estatais até então dominadas pelos argumentos utilitaristas de bentham, mill e outros. quem sabe, sabe que muito foi discutido antes de chegar-se a tamanhas conclusões e repercussões de ordem prática.
hoje a tendência das cotas domina o cenário e vemos aqui e ali cada vez mais instituições a adotá-la. os jornais repercutem um pouco, mas é apenas espuma de onda do mar. serve apenas para criar um contraponto e fazer de conta de que as opiniões alheias e contrárias interessam às políticas das instituições. em linhas gerais, apenas as arranham.
é isso o que eu acho mais estranho em tudo. não importa quem se oponha nem com quais argumentos. a batalha está ganha e cada vez mais instituições adotam cotas para minorias ou clivagens sociais prejudicadas pela história. os outros ficam pelo caminho.
pelo que sei, a razoabilidade assumida leva a crer que realmente as cotas são necessárias. eu sou a favor delas, independente de suas contradições e efeitos aparentemente deletérios. entendo que as instituições e suas políticas sempre prejudicaram as populações relativas a essas clivagens, e que uma compensação é relativamente devida.
mas me pergunto: e quanto a iniciativas que não fazem uso das compensações relativas a essas compensações? ou seja, e quanto a projetos de valor que não façam uso das políticas de cotas? eles são simplesmente jogados para trás? pois é isso o que acontece e que vai acontecer cada vez mais. vejo também que gente que aparentemente não deveria reclamar nada - gente que é branca, por exemplo, mas que se autoqualifica como negra - aproveita a oportunidade para, muito cinicamente, dizer que faz parte dos que sofreram esse tempo todo. vejo gente assim aparecendo em todo santo lugar. uns ridículos.
enquanto isso, a aparência de democracia dá um verniz civilizado a essa tomada de poder. pois é isso que tudo isso é: uma tomada de poder. pacífica, escorada em argumentos filosóficos, mas radical.
os outros ficam chupando o dedo, em última instância. como antes acontecia com quem agora tem o poder da palavra.
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