ano passado, por volta desta época, eu comecei a me enfronhar em oficinas com grupos de teatro variados. o primeiro foi o núcleo bartolomeu. depois, o redimunho. depois, o club noir. depois, o cemitério de automóveis. depois, entrei num grupo com a lulu pavarin.
já havia me apresentado como diretor em 2011, nas satyrianas.
apresentei-me como ator em bestas mortes, resultado do grupo da lulu.
há poucos dias, num festival na vila madalena.
agora estou num outro grupo que vai virar montagem.
e fui convidado para outro com o mesmo fim.
alguns colegas estão em outros grupos e outros, numa peça do beto bellini.
tá tudo avançando.
enquanto isso, assisto peças variadas e reassisto as que amo.
é estranho reparar que tudo está bem diferente de outrora - saio bastante, não me sinto mais deslocado -, mas que no fundo está a mesma coisa. a vida é assim, parece.
começo a ler com mais vagar e atenção a batelada de livros de e sobre teatro que comprei nos últimos anos. já li todas as peças clássicas gregas traduzidas para o português. irei relê-las. li várias outras de autores brasileiros e estrangeiros. devo ter uns 50 outros livros me esperando. ainda busco meu caminho, mas até cogito ir mais longe em teorizações. não que me atraiam tanto, não atraem; mas me fazem ver o que experimento tendo como base numa perspectiva um pouco mais elevada. não sei se quero virar especialista - quero ver melhor. para melhor cogitar algo com meus próprios esforços - o que já estou fazendo.
até vislumbro uma carreira no teatro. seja como produtor, diretor e/ou ator. mas não é minha vontade quem vai dar o toque na coisa. é minha atividade. em que medida eu me deixo afetar pelo que vejo e me deixo enlevar rumo a novos rumos (sorry pelo trocadilho).
considero que o teatro é arte plástica. eu sei que isso não concorda com quase ninguém - ou ninguém mesmo, pois não vi ninguém defendendo isso. arte plástica que conjuga texto, som, luz e tudo o mais. por isso, sustento que para assistir sabendo o que acontece é preciso ir além do senso comum. há um objeto a ser digerido e admirado. e avaliado. não sei de onde me veio essa ideia nem quais seriam as implicações para mim ou para meu conceito sobre o teatro. mas sei lá, é algo sobre o qual reflito desde que o alvim (roberto, do club noir) me aproximou das reflexões sobre as artes plásticas e o palco. influenciaram-me também as peças do peep classic ésquilo que ele encenou em 2012.
não creio direcionar-me rumo a alguma espécie de vanguarda. não me agradam tanto os experimentos que vejo por aí - alguns dos quais são bem legais. acho que essa fixação em busca do novo é irritante e de certa forma arrogante. como se o teatro apenas bem feito fosse necessariamente inferior só por não buscar novos rumos em relação ao que vemos por aí. eu sou mais de retrabalhar a tradição. olhar para a frente pode fazer-nos cair no buraco desnecessariamente. olhar para trás geralmente cobra mais da gente mesmo. por exemplo, cito o teatro pré-hispânico. ele existia. as peças estão catalogadas e traduzidas. isso não é novo, falando em termos mais amplos?
a conjugação de diversas linguagens - refiro-me a texto, música, som, iluminação, movimentos, etc. - torna minha tarefa de imaginar coisas no palco bem dificultosa. como que me falta a necessária expertise para imaginar, quanto mais para propor. busco referências que me façam sair do nível do chão. e reparo que outros, talvez os melhores, olharam para outros lados insuspeitados para fazerem o que fazem - bob wilson, por exemplo, quando olhou para os movimentos de pessoas com deficiências motoras, dentre outras sacas - ele não teve formação de teatro para transformá-lo. outros grandes, como kantor, meyerhold, artaud, sei lá, abrem sempre mais portas para mim. ler os clássicos consiste em lê-los (num sentido cênico) e buscar referências não diria inusitadas mas desafiadoras. isso não significa porém que eu me limite a buscar frutos das vanguardas já reconhecidas. nada disso. linguagens populares como música contemporânea para as grandes massas, quadrinhos, até mesmo design, me atraem também sobremaneira. coleciono revistas "caras" por exemplo. a estética daquelas revistas bate em mim de alguma forma. assim como moda, cenografia e por aí vai.
há também campos externos que me agradam demais para deixá-los passar, tais como a filosofia, a ciência política, a política em si, a história, a antropologia e por aí vai. tenho formação em filosofia e ciência política e guardo minhas referências com bastante carinho. meio que impossibilitado de me guiar academicamente por ali, resta-me tentar me comunicar por outros meios, e concebo que talvez o teatro seja um deles, talvez o mais interessante - até mesmo por englobar várias linguagens.
em termos de grana, o teatro deixa muito a desejar, e infelizmente eu sou um cara movido e motivado a grana. nesse sentido, aposto em rumos que vão contrários a grande parte de meus interesses concretos. isso acaba por me dividir. faço outras coisas que me sustentam e gosto de vislumbrar outros caminhos em sentidos mais lucrativos. não consigo encarar a vida como um mário bortolotto, por exemplo. gosto de comodidades, sempre mais delas, e não consigo me ver sem querer mais e mais. sou um cara em alguma medida caro. gasto bastante e preciso ganhar o suficiente para sustentar minhas paixões. mas tenho sorte. não que ganhe muito, não ganho mesmo, acreditem, mas comparativamente até que me saio bem em relação à média. só não sei como os caras que conheço gastam tanto em bebida, mas tudo bem. cada um se paga como pode.
gosto também e muito de outras artes. principalmente as artes plásticas contemporâneas e o cinema. pretendo fazer carreira em ambas, se me sobrar energia e tempo, ou se eu realmente quiser e conseguir me dedicar. no caso das artes plásticas, tenho ideias de ao menos duas instalações - que eu chamo de exposições. para a segunda estou catando ajudas aqui e acolá, mas sei que isso leva muito tempo e principalmente um esforço hercúleo. dou um exemplo. um monólogo que fiz em 2006 só este ano eu apresentei com um aspecto cuja ideia tinha me vindo aos poucos. o resultado foi bárbaro, mas reparem, levou sete anos. de lá para cá eu havia apresentado o texto n vezes em peças, etc. mas nunca DO JEITO EM QUE EU ACREDITAVA. e a instalação de agora, que demandará uma sala o tempo todo, muita fumaça, uns outros equipamentos e mão de obra (ela precisará de uma pessoa para realizar um ato simples)? vai levar tempo. com este, ou seja, com o tempo eu distingo quem realmente topa me ajudar e quem não, e assim vamos. sei bem que basta ter um breve sucesso para outros "amigos" aparecerem. nada contra. cada um é como é. mas é quando a gente tá na merda ou quer sair dela que as personas realmente se encontram. e cinema? ah, essa é uma paixão tão forte em mim que nem consigo me expressar direito. mas bem sei que tudo é muito difícil e complicado. acharei um lugar que me permita me expressar, se bem que aos poucos? dificilmente. tudo por enquanto é apenas sonho.
literatura, sei lá, eu tendo a não gostar de quase tudo do que vejo. de vez em quando surge alguém que me motiva, como a martha nowill com seu livro de poemas o que ela é, ou a márcia denser, ou o marcelo montenegro, além é claro do marião. mas fato é que ando desconfiado da palavra. bem sei que ela é hoje a única coisa que eu tendo a dominar, mas sei lá. poderia eu me meter a poetar, como alguns amigos que lançam livros a torto e a direito, ou mesmo a realizar vôos mais altos, um romance ou mesmo contos. mas não me motivo. prefiro ficar aqui na net jogando minhas impressões, que é o que hoje me satisfaz. engraçado que no passado eu lia sem parar sobre entrevistas de escritores. o tempo passou e agora estou aqui, deste jeito.
e ando cansado. não topo mais ver o filme da moda que todos elogiam. não topo também embarcar em disputas sem fim por ingressos por luminares como o bob wilson, que acho do caralho. sei lá, não consigo, simplesmente. nem sei se se me dessem ingressos eu iria. é sério, longe de bancar o difícil.
pois não topo mais essa coisa do guia. ninguém me guia. o marião, por exemplo, é aquele cara que hoje mais se aproxima disso para mim. mas o fato é que não o considero dessa forma. porra, aprendo com ele a ser gente, e isso é mais importante. fico muito feliz ao assistir peças dele ou com ele, e já nem acredito mais em juízos críticos de qualquer forma - desses que são considerados pela maioria como críticas, pois críticas mesmo eu sei que são outra coisa. mas até considerar que preciso segui-lo vai uma distância. aprendo sim mais e mais sobre as suas influências e coisas que eu não sabia sobre gente que eu já conhecia. isso é muito mais do que esperar ser guiado por quem quer que seja. como ele diz e eu confirmo, o valor mais importante é a amizade. se sou considerado amigo ou se eu considero a mesma coisa é o que vale. um dia disse ao gustavo isso, que esse é o maior valor defendido naquela turma. o cassiano é meu amigo, por exemplo. e outros há por aí. e outras. começo a ter reais amigas, por exemplo. logo eu que sempre tive tanto medo delas. aí vão dizer, mas porra e você não quer comê-las? sei lá!!!! gosto do que vivo, não sei mais o que quero além disso. óbvio que surgindo uma brecha... bom, sei lá. o fato é que não espero tanto mais, como se alguém estivesse me cobrando. e a sociedade cobra, claro. quantos houve que disseram que se se dessem tão bem com elas quanto eu comeriam uma por dia. ah, tá bom. não me importa. um dia rola e quero que role do meu jeito. talvez como o buk, como ele diz que aconteceu com o chinaski após os 50. e olhem, eu já estou com 45.
quem sabe este tenha sido o mais longo post que eu já pus neste humilde blog. falei sobre tudo, sempre envolvido com teatro. é uma forma de me expor mais e mais, porque creio que é assim que as coisas devam funcionar entre seres humanos que se respeitam - há os babacas, claro, mas deixa para lá. afirmo isso contando uma última história final. ontem, teve reunião de conselho de condomínio - eu fui eleito suplente. levou quatro horas, exato. houve de tudo, foi muito legal. mas o que mais me agradou e surpreendeu foi que ao me expor o pessoal realmente abriu a guarda e tudo foi avançando rumo a lugares desconhecidos e interessantes. quantos de vocês dizem que cantam, sim, quando voltam do trabalho, a todo pulmão, e músicas bregas, e admitem para o vizinho, e dizem que porra, preciso desabafar. o vizinho lá presente ficou estupefato. talvez quisesse ele me criticar, até senti isso, mas bastou abrir o jogo para ele entender. caralho, o que é meia hora de cantoria diante da vida como conhecemos? foi interessante. me senti aceito - e lembrei do outro prédio em que fui conselheiro, síndico e tudo o mais.
agora há pouco, voltando do almoço, quase fui atropelado. o cara tava à toda, o sinal era para ele, mas ele tinha de diminuir, claro, mas nada. e saiu me xingando. eu xinguei também. o cara fez que ia parar para tirar satisfação. qual nada, fiquei uma fera. saí encarando, chamando, gritando com minha voz de tenor 2. que dá para ouvir de muito longe. o sujeito ficou amuado, saiu correndo, e eu chamando ele de cuzão. cuzão mesmo. mas longe de me sentir tão bem, fato é que lamento. lamento que as coisas precisem às vezes ser resolvidas no olho no olho, com um pedaço de madeira pronto a quebrar a cabeça do outro. mas o mundo não é para amadores. dirá o marião: a noite é só para profissionais. quem sabe eu esteja andando nessa direção. quem sabe.
já havia me apresentado como diretor em 2011, nas satyrianas.
apresentei-me como ator em bestas mortes, resultado do grupo da lulu.
há poucos dias, num festival na vila madalena.
agora estou num outro grupo que vai virar montagem.
e fui convidado para outro com o mesmo fim.
alguns colegas estão em outros grupos e outros, numa peça do beto bellini.
tá tudo avançando.
enquanto isso, assisto peças variadas e reassisto as que amo.
é estranho reparar que tudo está bem diferente de outrora - saio bastante, não me sinto mais deslocado -, mas que no fundo está a mesma coisa. a vida é assim, parece.
começo a ler com mais vagar e atenção a batelada de livros de e sobre teatro que comprei nos últimos anos. já li todas as peças clássicas gregas traduzidas para o português. irei relê-las. li várias outras de autores brasileiros e estrangeiros. devo ter uns 50 outros livros me esperando. ainda busco meu caminho, mas até cogito ir mais longe em teorizações. não que me atraiam tanto, não atraem; mas me fazem ver o que experimento tendo como base numa perspectiva um pouco mais elevada. não sei se quero virar especialista - quero ver melhor. para melhor cogitar algo com meus próprios esforços - o que já estou fazendo.
até vislumbro uma carreira no teatro. seja como produtor, diretor e/ou ator. mas não é minha vontade quem vai dar o toque na coisa. é minha atividade. em que medida eu me deixo afetar pelo que vejo e me deixo enlevar rumo a novos rumos (sorry pelo trocadilho).
considero que o teatro é arte plástica. eu sei que isso não concorda com quase ninguém - ou ninguém mesmo, pois não vi ninguém defendendo isso. arte plástica que conjuga texto, som, luz e tudo o mais. por isso, sustento que para assistir sabendo o que acontece é preciso ir além do senso comum. há um objeto a ser digerido e admirado. e avaliado. não sei de onde me veio essa ideia nem quais seriam as implicações para mim ou para meu conceito sobre o teatro. mas sei lá, é algo sobre o qual reflito desde que o alvim (roberto, do club noir) me aproximou das reflexões sobre as artes plásticas e o palco. influenciaram-me também as peças do peep classic ésquilo que ele encenou em 2012.
não creio direcionar-me rumo a alguma espécie de vanguarda. não me agradam tanto os experimentos que vejo por aí - alguns dos quais são bem legais. acho que essa fixação em busca do novo é irritante e de certa forma arrogante. como se o teatro apenas bem feito fosse necessariamente inferior só por não buscar novos rumos em relação ao que vemos por aí. eu sou mais de retrabalhar a tradição. olhar para a frente pode fazer-nos cair no buraco desnecessariamente. olhar para trás geralmente cobra mais da gente mesmo. por exemplo, cito o teatro pré-hispânico. ele existia. as peças estão catalogadas e traduzidas. isso não é novo, falando em termos mais amplos?
a conjugação de diversas linguagens - refiro-me a texto, música, som, iluminação, movimentos, etc. - torna minha tarefa de imaginar coisas no palco bem dificultosa. como que me falta a necessária expertise para imaginar, quanto mais para propor. busco referências que me façam sair do nível do chão. e reparo que outros, talvez os melhores, olharam para outros lados insuspeitados para fazerem o que fazem - bob wilson, por exemplo, quando olhou para os movimentos de pessoas com deficiências motoras, dentre outras sacas - ele não teve formação de teatro para transformá-lo. outros grandes, como kantor, meyerhold, artaud, sei lá, abrem sempre mais portas para mim. ler os clássicos consiste em lê-los (num sentido cênico) e buscar referências não diria inusitadas mas desafiadoras. isso não significa porém que eu me limite a buscar frutos das vanguardas já reconhecidas. nada disso. linguagens populares como música contemporânea para as grandes massas, quadrinhos, até mesmo design, me atraem também sobremaneira. coleciono revistas "caras" por exemplo. a estética daquelas revistas bate em mim de alguma forma. assim como moda, cenografia e por aí vai.
há também campos externos que me agradam demais para deixá-los passar, tais como a filosofia, a ciência política, a política em si, a história, a antropologia e por aí vai. tenho formação em filosofia e ciência política e guardo minhas referências com bastante carinho. meio que impossibilitado de me guiar academicamente por ali, resta-me tentar me comunicar por outros meios, e concebo que talvez o teatro seja um deles, talvez o mais interessante - até mesmo por englobar várias linguagens.
em termos de grana, o teatro deixa muito a desejar, e infelizmente eu sou um cara movido e motivado a grana. nesse sentido, aposto em rumos que vão contrários a grande parte de meus interesses concretos. isso acaba por me dividir. faço outras coisas que me sustentam e gosto de vislumbrar outros caminhos em sentidos mais lucrativos. não consigo encarar a vida como um mário bortolotto, por exemplo. gosto de comodidades, sempre mais delas, e não consigo me ver sem querer mais e mais. sou um cara em alguma medida caro. gasto bastante e preciso ganhar o suficiente para sustentar minhas paixões. mas tenho sorte. não que ganhe muito, não ganho mesmo, acreditem, mas comparativamente até que me saio bem em relação à média. só não sei como os caras que conheço gastam tanto em bebida, mas tudo bem. cada um se paga como pode.
gosto também e muito de outras artes. principalmente as artes plásticas contemporâneas e o cinema. pretendo fazer carreira em ambas, se me sobrar energia e tempo, ou se eu realmente quiser e conseguir me dedicar. no caso das artes plásticas, tenho ideias de ao menos duas instalações - que eu chamo de exposições. para a segunda estou catando ajudas aqui e acolá, mas sei que isso leva muito tempo e principalmente um esforço hercúleo. dou um exemplo. um monólogo que fiz em 2006 só este ano eu apresentei com um aspecto cuja ideia tinha me vindo aos poucos. o resultado foi bárbaro, mas reparem, levou sete anos. de lá para cá eu havia apresentado o texto n vezes em peças, etc. mas nunca DO JEITO EM QUE EU ACREDITAVA. e a instalação de agora, que demandará uma sala o tempo todo, muita fumaça, uns outros equipamentos e mão de obra (ela precisará de uma pessoa para realizar um ato simples)? vai levar tempo. com este, ou seja, com o tempo eu distingo quem realmente topa me ajudar e quem não, e assim vamos. sei bem que basta ter um breve sucesso para outros "amigos" aparecerem. nada contra. cada um é como é. mas é quando a gente tá na merda ou quer sair dela que as personas realmente se encontram. e cinema? ah, essa é uma paixão tão forte em mim que nem consigo me expressar direito. mas bem sei que tudo é muito difícil e complicado. acharei um lugar que me permita me expressar, se bem que aos poucos? dificilmente. tudo por enquanto é apenas sonho.
literatura, sei lá, eu tendo a não gostar de quase tudo do que vejo. de vez em quando surge alguém que me motiva, como a martha nowill com seu livro de poemas o que ela é, ou a márcia denser, ou o marcelo montenegro, além é claro do marião. mas fato é que ando desconfiado da palavra. bem sei que ela é hoje a única coisa que eu tendo a dominar, mas sei lá. poderia eu me meter a poetar, como alguns amigos que lançam livros a torto e a direito, ou mesmo a realizar vôos mais altos, um romance ou mesmo contos. mas não me motivo. prefiro ficar aqui na net jogando minhas impressões, que é o que hoje me satisfaz. engraçado que no passado eu lia sem parar sobre entrevistas de escritores. o tempo passou e agora estou aqui, deste jeito.
e ando cansado. não topo mais ver o filme da moda que todos elogiam. não topo também embarcar em disputas sem fim por ingressos por luminares como o bob wilson, que acho do caralho. sei lá, não consigo, simplesmente. nem sei se se me dessem ingressos eu iria. é sério, longe de bancar o difícil.
pois não topo mais essa coisa do guia. ninguém me guia. o marião, por exemplo, é aquele cara que hoje mais se aproxima disso para mim. mas o fato é que não o considero dessa forma. porra, aprendo com ele a ser gente, e isso é mais importante. fico muito feliz ao assistir peças dele ou com ele, e já nem acredito mais em juízos críticos de qualquer forma - desses que são considerados pela maioria como críticas, pois críticas mesmo eu sei que são outra coisa. mas até considerar que preciso segui-lo vai uma distância. aprendo sim mais e mais sobre as suas influências e coisas que eu não sabia sobre gente que eu já conhecia. isso é muito mais do que esperar ser guiado por quem quer que seja. como ele diz e eu confirmo, o valor mais importante é a amizade. se sou considerado amigo ou se eu considero a mesma coisa é o que vale. um dia disse ao gustavo isso, que esse é o maior valor defendido naquela turma. o cassiano é meu amigo, por exemplo. e outros há por aí. e outras. começo a ter reais amigas, por exemplo. logo eu que sempre tive tanto medo delas. aí vão dizer, mas porra e você não quer comê-las? sei lá!!!! gosto do que vivo, não sei mais o que quero além disso. óbvio que surgindo uma brecha... bom, sei lá. o fato é que não espero tanto mais, como se alguém estivesse me cobrando. e a sociedade cobra, claro. quantos houve que disseram que se se dessem tão bem com elas quanto eu comeriam uma por dia. ah, tá bom. não me importa. um dia rola e quero que role do meu jeito. talvez como o buk, como ele diz que aconteceu com o chinaski após os 50. e olhem, eu já estou com 45.
quem sabe este tenha sido o mais longo post que eu já pus neste humilde blog. falei sobre tudo, sempre envolvido com teatro. é uma forma de me expor mais e mais, porque creio que é assim que as coisas devam funcionar entre seres humanos que se respeitam - há os babacas, claro, mas deixa para lá. afirmo isso contando uma última história final. ontem, teve reunião de conselho de condomínio - eu fui eleito suplente. levou quatro horas, exato. houve de tudo, foi muito legal. mas o que mais me agradou e surpreendeu foi que ao me expor o pessoal realmente abriu a guarda e tudo foi avançando rumo a lugares desconhecidos e interessantes. quantos de vocês dizem que cantam, sim, quando voltam do trabalho, a todo pulmão, e músicas bregas, e admitem para o vizinho, e dizem que porra, preciso desabafar. o vizinho lá presente ficou estupefato. talvez quisesse ele me criticar, até senti isso, mas bastou abrir o jogo para ele entender. caralho, o que é meia hora de cantoria diante da vida como conhecemos? foi interessante. me senti aceito - e lembrei do outro prédio em que fui conselheiro, síndico e tudo o mais.
agora há pouco, voltando do almoço, quase fui atropelado. o cara tava à toda, o sinal era para ele, mas ele tinha de diminuir, claro, mas nada. e saiu me xingando. eu xinguei também. o cara fez que ia parar para tirar satisfação. qual nada, fiquei uma fera. saí encarando, chamando, gritando com minha voz de tenor 2. que dá para ouvir de muito longe. o sujeito ficou amuado, saiu correndo, e eu chamando ele de cuzão. cuzão mesmo. mas longe de me sentir tão bem, fato é que lamento. lamento que as coisas precisem às vezes ser resolvidas no olho no olho, com um pedaço de madeira pronto a quebrar a cabeça do outro. mas o mundo não é para amadores. dirá o marião: a noite é só para profissionais. quem sabe eu esteja andando nessa direção. quem sabe.
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