convidado pela Lulu após ter participado de um grupo de estudos com ela à frente, cheguei no sesc consolação sabendo um pouco da discreta mas persistente fama que cerca o diretor, jovem e uriundo do cpt de antunes filho. lembro-me de haver lido que nesta peça o tempo passa e nada acontece nos personagens, ou seja, não se usa maguiagem nem nada assim para aparentar a passagem do tempo que tudo corrói. mas creio que destacar tanto esse tipo de malabarismo é injusto, simplório até, como se não houvesse mais nada.
não capto nem sou informado do nome dela, grávida de 30 anos. ela entra ensimesmada e rascunha numa espécie de diário aquilo que lhe aconteceu e acontece. por que ficar 30 anos sem dar à luz? o que está envolvido nisso tudo? aquilo que em outras mãos poderia soar inconsequente com a lulu permanece nitidamente em nossa retina. embarco na dela sem que me aperceba.
mas ela dá à luz. um homem de 30 que não sabe a que veio. um bebê-homem feito.
rodrigo audio é engraçado. ele tem um tipo físico que convida facilmente à comédia e sua presença aglutina a ausência de acepções de um ser que acima de tudo teme com a obrigatória ausência de capacidade de movimentos. é hilária a cena em que ele acende a tv, grita e se deixa aos poucos levar pelas sensações provocadas pela tela. é interessante que o diretor lenate tenha escolhido sons remetendo a programas estrangeiros ao invés de à tv brasileira. os programas escolhidos remetem a um passado nem tão remoto assim e são paradigmáticos na atribuição de respostas necessárias a eles.
lulu atribui tudo a que tem direito ao papel da mãe mentirosa, assassina e ao mesmo tempo carinhosa. a carência a que ela se mostra sujeita perpassa todo o sofrimento que as mães verdadeiras inventam e chega a ser quase justificada pelo ato de prender o filho à sua saia. o filho é dela, em última instância. acaso esse sentimento não é real, na realidade nossa de cada dia? difícil deixá-lo ir embora, é uma espécie de morte.
mas a trama, que no começo aglutina a relação entre ambos, mostra-se aos poucos esgarçada pelo isolamento trágico dos personagens. o filho amadurece, passa por fases determinadas, rebeldia, etc., enquanto ela arranja desculpas e mais desculpas para prendê-lo física e emocionalmente, sem arredar nem que seja um dedo em prol da maturidade do para-sempre-rebento. sentimos quase fisicamente a solidão de ambos, nesse relacionamento fadado ao fracasso por não ser deixado à arbitrariedade da natureza.
a tal ponto embarcamos na subjetividade dos personagens que o desenlace da trama perde algo de sua importância. em suma, envolvo-me a tal ponto que nem torço mais a favor ou contra o filho. ao final, bom, ao final vocês irão ver.
mesmo assim, cumpre notar duas coisas em particular. apesar de todo o grandioso cenário - apesar da exiguidade do espaço - e de todos os recursos cênicos, som, iluminação, etc., esta é uma peça de atores. são os atores o centro do espetáculo. são eles que o levantam e o mantém na cabeça de quem assiste. nada mais nem a menos. nesse sentido, é a competência e irreverência da lulu e do rodrigo os maiores responsáveis por tudo o que de bom surge e desaparece da cena. em segundo lugar, que se nota claramente o quanto a formação dos atores acrescenta à cena. por exemplo, como entender que durante minutos e minutos a fio a cena praticamente descansa parada e mesmo assim ficarmos com a atenção presa a pequenos gestos, que dialogam conosco e nos fazem viajar realmente no personagem e em nós mesmos. digo isso porque me lembrei claramente da oficina que fiz com a lulu e senti uma grande satisfação por ter aprendido tanto - se consigo algo com isso, claro, são outros quinhentos.
a peça é longa e há quem me diga que algo demais. mas eu particularmente não sinto isso. não desgrudo um minuto sequer o olhar de tudo o que se passa à minha frente, é a verdade. mas por outro lado saio alquebrado. se isso acontece comigo, imaginem com eles, os atores.
a peça tem os ingressos esgotados. mas, para quem quer realmente, quem sabe.
não capto nem sou informado do nome dela, grávida de 30 anos. ela entra ensimesmada e rascunha numa espécie de diário aquilo que lhe aconteceu e acontece. por que ficar 30 anos sem dar à luz? o que está envolvido nisso tudo? aquilo que em outras mãos poderia soar inconsequente com a lulu permanece nitidamente em nossa retina. embarco na dela sem que me aperceba.
mas ela dá à luz. um homem de 30 que não sabe a que veio. um bebê-homem feito.
rodrigo audio é engraçado. ele tem um tipo físico que convida facilmente à comédia e sua presença aglutina a ausência de acepções de um ser que acima de tudo teme com a obrigatória ausência de capacidade de movimentos. é hilária a cena em que ele acende a tv, grita e se deixa aos poucos levar pelas sensações provocadas pela tela. é interessante que o diretor lenate tenha escolhido sons remetendo a programas estrangeiros ao invés de à tv brasileira. os programas escolhidos remetem a um passado nem tão remoto assim e são paradigmáticos na atribuição de respostas necessárias a eles.
lulu atribui tudo a que tem direito ao papel da mãe mentirosa, assassina e ao mesmo tempo carinhosa. a carência a que ela se mostra sujeita perpassa todo o sofrimento que as mães verdadeiras inventam e chega a ser quase justificada pelo ato de prender o filho à sua saia. o filho é dela, em última instância. acaso esse sentimento não é real, na realidade nossa de cada dia? difícil deixá-lo ir embora, é uma espécie de morte.
mas a trama, que no começo aglutina a relação entre ambos, mostra-se aos poucos esgarçada pelo isolamento trágico dos personagens. o filho amadurece, passa por fases determinadas, rebeldia, etc., enquanto ela arranja desculpas e mais desculpas para prendê-lo física e emocionalmente, sem arredar nem que seja um dedo em prol da maturidade do para-sempre-rebento. sentimos quase fisicamente a solidão de ambos, nesse relacionamento fadado ao fracasso por não ser deixado à arbitrariedade da natureza.
a tal ponto embarcamos na subjetividade dos personagens que o desenlace da trama perde algo de sua importância. em suma, envolvo-me a tal ponto que nem torço mais a favor ou contra o filho. ao final, bom, ao final vocês irão ver.
mesmo assim, cumpre notar duas coisas em particular. apesar de todo o grandioso cenário - apesar da exiguidade do espaço - e de todos os recursos cênicos, som, iluminação, etc., esta é uma peça de atores. são os atores o centro do espetáculo. são eles que o levantam e o mantém na cabeça de quem assiste. nada mais nem a menos. nesse sentido, é a competência e irreverência da lulu e do rodrigo os maiores responsáveis por tudo o que de bom surge e desaparece da cena. em segundo lugar, que se nota claramente o quanto a formação dos atores acrescenta à cena. por exemplo, como entender que durante minutos e minutos a fio a cena praticamente descansa parada e mesmo assim ficarmos com a atenção presa a pequenos gestos, que dialogam conosco e nos fazem viajar realmente no personagem e em nós mesmos. digo isso porque me lembrei claramente da oficina que fiz com a lulu e senti uma grande satisfação por ter aprendido tanto - se consigo algo com isso, claro, são outros quinhentos.
a peça é longa e há quem me diga que algo demais. mas eu particularmente não sinto isso. não desgrudo um minuto sequer o olhar de tudo o que se passa à minha frente, é a verdade. mas por outro lado saio alquebrado. se isso acontece comigo, imaginem com eles, os atores.
a peça tem os ingressos esgotados. mas, para quem quer realmente, quem sabe.
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