Li o livro muito depois de ver o filme ("Muito Além do Jardim", de Hal Ashby), um de meus preferidos de todos os que conheço.
O livro é surpreendentemente curto (101 páginas) e é acompanhado de um posfácio de Xico Sá.
Narra a história de um sujeito (Chance) que nunca saiu de sua casa (onde trabalhou como jardineiro) até o momento em que é obrigado a isso, por causa da morte de seu patrão, O Velho. Sofre um pequeno acidente, é acolhido por um homem poderoso (Rand) com doença terminal e, graças a sua discrição e a uma série de golpes de sorte, se torna uma personalidade extremamente influente.
De certa forma, o livrinho é uma nova versão do Enigma de Kaspar Hauser, o caso real de um homem que cresceu isolado e fechado num quarto e que de repente se vê em meio ao mundo.
Pode-se argumentar que o livro é um ensaio sob a forma de romance sobre o poder da imagem. Mas o título original o desmente ("Being There"). Há, sim, uma série de referências ao poder da imagem, no caso, da televisão. Mas creio ser parcial uma leitura focada essencialmente nisso. Há no personagem de Chance aspectos radicalmente avessos a leituras reducionistas. Tomo por exemplo suas respostas, quase sempre simplórias. Elas são entendidas sempre de outra forma. Onde estaria o problema, nele ou em seus interlocutores? A simplicidade, por ser enigmática, acaba muitas vezes por levar longe - mas isso não é questão de imagem, necessariamente. Discordo do Xico ao mencionar fortemente o personagem de Bartleby, de Melville. Chance não é o homem que prefere-não. Ele é o personagem-espelho: sem saber o que é, busca-se no outro, que acha aquilo que ele próprio é.
Deverá ser bem interessante para mim comparar o livro original com sua versão no filme. Mas desde já sugiro ambos: aquilo que neste pode parecer chapado no livro aparece com maiores nuances. O que não significa que um seja superior ao outro; significa, isso sim, que as artes podem se complementar mutuamente.
O livro é surpreendentemente curto (101 páginas) e é acompanhado de um posfácio de Xico Sá.
Narra a história de um sujeito (Chance) que nunca saiu de sua casa (onde trabalhou como jardineiro) até o momento em que é obrigado a isso, por causa da morte de seu patrão, O Velho. Sofre um pequeno acidente, é acolhido por um homem poderoso (Rand) com doença terminal e, graças a sua discrição e a uma série de golpes de sorte, se torna uma personalidade extremamente influente.
De certa forma, o livrinho é uma nova versão do Enigma de Kaspar Hauser, o caso real de um homem que cresceu isolado e fechado num quarto e que de repente se vê em meio ao mundo.
Pode-se argumentar que o livro é um ensaio sob a forma de romance sobre o poder da imagem. Mas o título original o desmente ("Being There"). Há, sim, uma série de referências ao poder da imagem, no caso, da televisão. Mas creio ser parcial uma leitura focada essencialmente nisso. Há no personagem de Chance aspectos radicalmente avessos a leituras reducionistas. Tomo por exemplo suas respostas, quase sempre simplórias. Elas são entendidas sempre de outra forma. Onde estaria o problema, nele ou em seus interlocutores? A simplicidade, por ser enigmática, acaba muitas vezes por levar longe - mas isso não é questão de imagem, necessariamente. Discordo do Xico ao mencionar fortemente o personagem de Bartleby, de Melville. Chance não é o homem que prefere-não. Ele é o personagem-espelho: sem saber o que é, busca-se no outro, que acha aquilo que ele próprio é.
Deverá ser bem interessante para mim comparar o livro original com sua versão no filme. Mas desde já sugiro ambos: aquilo que neste pode parecer chapado no livro aparece com maiores nuances. O que não significa que um seja superior ao outro; significa, isso sim, que as artes podem se complementar mutuamente.
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