Pular para o conteúdo principal

um pouco sobre o jaguar cibernético de francisco carlos

havia tempos que eu estava curioso com as peças desse amazonense meio maluco - agora disso eu tenho certeza.
acabo de chegar de assistir a banquete tupinambá e aborígene em metrópolis, ambas peças que fazem parte da quatrilogia com o título acima.
não consigo descrever em pormenores o que vi. só sei que me senti bem.
o carlos apoia-se fortemente no texto. há, aqui e acolá, algo em termos de movimentação cênica, luzes, vozes em off, etc. mas a força está mesmo no texto.
o banque tupinambá chama a atenção primeiro pelo ineditismo de se ver a constituição de uma cena como que na oca de índios estilizados que confabulam numa língua estranha e próxima simultaneamente. aqui e acolá termos emprestados do nosso cotidiano num universo que nos é estranho mas que parece tão próximo como pouco do que já vi.
entramos na oca dos leões e entendemos o enredo de um povo que devora outro para em seguida ser devorado, numa antropofagia aparentemente inesgotável.
a peça acaba com um grito em forma de lamento. e ficamos numa espécie de transe que curtimos no intervalo (quando eu compro os ingressos de amanhã - última semana).
já aborígene em metrópolis é mais complexa. começa simplória, engrena com certos clichês que causam-me impressão estranha, mas avança em movimentos que atraem, sim, mas não tanto. ficamos a meio caminho do novo e do velho, clichês avolumando-se em meio a pequenos achados, como o strip-tease que se torna inexpressivo-patético e que dá margem a alguns sorrisos, aqui e acolá. terceira vez que repito a fórmula - desculpem.
bom, muito mais acontece, e o desfecho aproxima-se do da peça anterior. ele gosta de terminar pelo alto. já dá idéia da obra como um todo.
amanhã, mais.
por enquanto, só isso. bye....

...

pena não ter achado foto da primeira das peças. tão interessante o figurino...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c